domingo, 26 de janeiro de 2014

A Claraboia

Era madrugada ainda? Onde estava o relógio? Ele não sabia responder a nenhuma das duas perguntas, sabia que estava deitado na cama, que fora acordado por batidas suaves na porta. Aquelas batidas furtivas que pareciam que seu autor não queria que ninguém mais ouvisse, senão quem estivesse naquele quarto.
Ainda confuso, ele se levantou da cama, vestiu uma camiseta e, aos tropeções, foi até a porta, girou a chave e abriu uma pequena fresta, por onde podia olhar quem estava do lado de fora. Depois que ele abriu a fresta foi que ele se deu conta do perigo que corria, a porta não tinha corrente de segurança, se do outro lado fosse um ladrão, quando essa pessoa se desse conta que a porta não estava mais trancada, um empurrão mais vigoroso a porta estaria aberta e ele indefeso.
Era um garoto que não deveria ter mais que seus 15 anos, vestido com o uniforme do hotel, camisa branca, colete e calças bordô, e aquele gorrinho ridículo, também bordô, na cabeça. Não trazia nenhuma bandeja consigo, nem poderia afinal ele não havia feito nenhum pedido de serviço de quarto. O garoto não era da equipe de limpeza, estes faziam seu trabalho quando os hóspedes estavam fora de seus quartos, como em qualquer hotel que ele já havia se hospedado.
Curioso, ele abriu mais a porta e deu passagem para que o rapaz entrasse. Este entrou, silencioso e aguardou que a porta fosse fechada, como ele apenas a encostou, o rapaz lhe fez um sinal para que ele passasse a chave na porta, trancando-a. Sem entender bem o por quê, ele chaveou a porta e se virou para ver seu estranho visitante.
Neste momento o rapaz foi até a janela, que estava fechada, olhou para fora através do vidro, como se estivesse procurando espiões, abaixou cuidadosamente a cortina metálica e voltou à sua posição inicial, junto ao gaveteiro. Só então falou:
_ Estou aqui para lhe abrir a claraboia e lhe passar as primeiras informações sobre sua missão.
Ele deu um pulo, sobressaltado, e respondeu:
_ Você está errado, só pode ter se confundido de quarto, eu estou aqui de férias, vim passar alguns dias aqui, sou apenas um vendedor de móveis e eletrodomésticos, não sou um policial ou espião, não sou eu quem você procura.
Sem se abalar, o garoto começou a esquadrinhar a parede sobre o gaveteiro, enquanto falava:
_ Sim, eu fui mandado para falar com você, seu nome não é Coult Vollstag, chamado por seus amigos por O Nórdico?
_ Sim, mas…
O garoto o interrompeu:
_ Então é você mesmo quem eu procuro. Fui mandado aqui para abrir a claraboia, lhe mostrar pela fresta a nossa realidade e explicar alguns detalhes da sua missão, depois virá outro portador que lhe entregará mais detalhes.
_ Espere, por que…
_ Nós não podemos ter todas as informações, é perigoso, se formos pegos pelos ‘claris’ toda a missão pode ser posta a perder.
_ ‘Claris’?
_ Sim, são alguns dos habitantes do lado de lá da fresta, eles sempre tentam abrir as passagens, para raptar os humanos, mas essas são outras informações, outro portador falará sobre isso.
Enquanto falava, o rapaz continuava a apalpar a parede, até que parecia ter encontrado o que procurava e então ele colocou a mão no bolso do colete e retirou uma espécie de chave, que encaixou na parede, no que parecia ser um buraco de fechadura. Mas como um buraco de fechadura? A parede era lisa, não havia nada ali. Mas aquela chave havia deslizado para dentro da parede sólida, sem qualquer esforço do rapaz, que a girou uma vez sobre seu eixo.
Subitamente, cerca de meio metro acima de onde estava a chave, um facho de luz se projetou daquela parede, cruzando o quarto, iluminado uma área retangular na parede oposta. A luz revelava uma janela, idêntica à janela que dava vista para a rua, mas era uma loucura, aquela parede fazia a divisão daquele quarto com o quarto ao lado, aquela janela não poderia existir.
O garoto soltou a chave e fez um sinal para que ele o acompanhasse até aquela nova janela. Quando estavam em pé, o garoto a abriu cuidadosamente e falou:
_ Fique calmo, esta é uma claraboia, por aqui apenas podemos ver algumas coisas do lado de lá da fresta, mas não podemos passar para lá, nem fazer o caminho contrário. Venha e olhe.
Ele não acreditava, pois do outro lado da parede existia um quarto tão sólido quanto aquele em que ele havia se hospedado, mas ao olhar pela janela, ele via um grande saguão, como se o hotel fosse bem diferente.
Era uma área ampla, maior que um campo de futebol, com paredes altas, mas tudo parecia deteriorado, a pintura estava manchada e descascada, parte do forro do teto pendia quebrado e estava cheio de teias de aranha, o chão tinha amontoados de terra e os móveis estavam quebrados e virados por toda parte, como se uma horda de vândalos tivesse passado por ali.
Na parede que daria para frente do hotel, as janelas estavam com os vidros sujos e quebrados, pelos buracos entrava uma luminosidade difusa, esta ajudava a deixar definida a dimensão daquele local, mas também o deixava com menos vontade de saber mais a respeito daquilo tudo.
O garoto falou:
_ Não se preocupe, o lado de lá da fresta não é assim em toda parte, existem lugares iguais a este, limpos e arrumados, acontece que este hotel tem o tecido de realidade mais fino, aqui é mais fácil abrir portais, então os ‘claris’ se reúnem próximos, expulsam os moradores comum e depredam o lugar. O lado de lá da fresta é como se fosse outra dimensão, uma dimensão paralela que se sobrepõem a esta, não como espelho, mas muito próxima, geralmente, onde há construções aqui, do outro lado também há quase sempre semelhantes, aqui é um hotel, lá também, mas as construções são diferentes, como você pode ver, mas há lugares onde em uma realidade você tem uma rua larga e na outra existe um prédio. Por esse motivo não é em todo lugar que se podem abrir os portais, entende? Os portais só podem ser abertos onde existe a coincidência completa, se aqui está construído um hotel de cinco andares, com uma área de 350 metros de frente por 500 metros de fundo, do outro lado tem que ter um hotel semelhante, mesmo que as configurações internas sejam diferentes, a área e a altura têm que ser iguais, de alguma forma isso afina a barreira entre as dimensões e facilita a abertura dos portais.
Ele não acreditava em seus próprios olhos, mas reuniu coragem e perguntou:
_ E qual o nome dessa dimensão? Como vocês chamam esse lugar?
_ Por enquanto chame de “o outro lado do portal”, claro que esse lugar tem nome, mas esse fato tem pouca importância neste momento, depois, antes de você começar sua missão, você terá essa e outras informações.
_ Mas…
Um movimento furtivo no saguão o fez se calar. Parecia que alguns vultos andavam do outro lado do salão, se reunindo, mas a pouca claridade que as janelas traziam não davam clareza ao lugar. Ele olhou atentamente, pareciam homens, não muito diferentes dele, por causa da distância, da claridade e do local de onde ele olhava, ele não poderia dizer se eram altos ou baixos, mas pareciam homens comuns. Ele olhou para o garoto, que esclareceu:
_ São alguns ‘claris’, fique tranquilo, eles não podem ver a claraboia, nem mesmo nos ouvir. Eles devem estar sentindo que o tecido está sensível, devem estar adivinhando que em breve um portal será aberto, isso os deixa agitados, nós não conseguimos entender como eles pressentem os portais. Mas compreenda bem, eles não são monstros, não têm força sobrenatural, não conseguem voar, são homens, eles sofreram pequenas mutações que os deixam menos civilizados, mas podem ser confrontados e vencidos, não tenha medo, você receberá mais informações sobre as fraquezas que eles possuem.
_ Eu ainda não entendo.
_ Outro portador lhe explicará mais. Agora se sente, vou falar sobre os portais.
O garoto lhe apontou a cadeira, fechou a janela e voltou à outra parede, de onde retirou a chave, o facho de luz apagou e a janela sumiu, então se virou para ele e falou:
_ Já mostrei a claraboia e como é o lado de lá do portal, tive sorte que alguns ‘claris’ deram a graça de aparecer, assim você já pode vê-los, agora vou explicar sobre os portais.
_ Os portais são passagens entre as dimensões, só podemos abri-los onde a barreira é mais fina, isso só acontece onde há construções similares nas duas dimensões, mesmo que internamente elas sejam diferentes, por fora tem que ter a mesma altura e área.
_ Este hotel tem um irmão gêmeo do outro lado, mesma altura e área, só que por dentro é diferente, isso não impede de ser uma área de portal.
_ Por causa dos ‘claris’, o portal não fica aberto por tempo indeterminado, ele será aberto, você passará para a outra dimensão, então o portal se fechará, quando a missão estiver terminada, ou por qualquer outro motivo, você deverá voltar ao hotel, para reabrir o portal. Procure sempre fixar um ponto de referência, um pilar, uma janela, qualquer coisa, o portal sempre abrirá na mesma coordenada, mas ele é quase imperceptível, então você só o achará pelos pontos de referência.
_ Existem outros portais que podem ser usados, mas isso só se houver uma emergência, se você for visto em um lugar onde não estava, minutos antes, terá dificuldades de explicar sua presença ali, isso poderá trazer problemas, então evite usar outros portais.
_ Nem todos os habitantes do lado de lá são ‘claris’, você provavelmente receberá apoio de vários, além do agente que trabalhará ao seu lado. Lembre-se, onde há concentração de ‘claris’ há a possibilidade de abertura de um portal.
_ Eu preciso ir, logo você receberá mais informações de outro portador, depois entrará em um portal para cumprir sua missão. Boa sorte.

domingo, 19 de janeiro de 2014

A vida e o desconhecido

A delícia e beleza da vida é que ela pode ser comparada com um grande oceano, há dias de calmaria, dias de tempestade, grandes movimentos e o desconhecido.

O desconhecido sempre nos desperta o medo, a ansiedade, a insegurança, nesse momento você começa a pensar e pensar, mas quer se proteger, acaba sendo pessimista, olhando sempre pelo pior ângulo, esquecendo que muitas vezes o desconhecido nos trás a oportunidade de uma virada na vida para algo melhor.

No momento em que o oceano nos apresenta um novo mundo, desconhecido, por mais que o medo seja despertado, muitas vezes o melhor a fazer é aceitar o desafio, mergulhar nas águas que se oferecem, descobrir o novo que se descortina a sua frente, nunca é garantia, mas o que podemos encontrar ao final da jornada é o pote de ouro do final do arco-íris.

Sempre procure ver os desafios com otimismo e bons olhos, a vida lhe sorrirá de volta.




sábado, 11 de janeiro de 2014

Valente, uma fábula de adolescência e amores platônicos

Há mais ou menos um mês atrás (dezembro de 2013), foram lançadas três coletâneas de tirinhas do personagem Valente do artista brasileiro Vitor Cafaggi, o mesmo que, junto com sua irmã Lu, criou uma história clássica da Turma da Mônica.
 
 
Nessas coletâneas Vitor faz uma linha mais biográfica, adaptando histórias de sua adolescência e de seus amigos para a vida do cãozinho Valente. Impossível não identificar no personagem uma ou outra característica sua, durante sua adolescência.
 
 
O protagonista vive de paixões platônicas, até que conhece uma gatinha dengosa, Dama, que bagunça de vez sua vida, levando a altos e baixos em sua vida sentimental. Também conhecemos seus amigos (alter egos da vida real) como Bu, colega de classe, melhor amiga e confidente, e os amigos de classe, RPG e... bem, Valente não gosta de baladas, são eles Esopo, Cacique, Percival, Ted e Mel.
 
 
Também vemos a mudança de foco de Valente, mudando suas atenções de Dama para a doce Princesa, que mostrará que a vida não são apenas flores.
 
Uma leitura leve, com algumas reminiscências de adolescência, que vale momentos de lazer, vale repetir para esquecer o estresse do dia a dia.
 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Que 2014 comece bem

Ontem circulou nas redes sociais um texto atribuído a Carlos Drummond de Andrade (em tempos de internet fica difícil confirmar a autoria dos textos), ele é interessante e por isso trago para cá, para começar o ano com o pé direito.

O Tempo (Carlos Drummond de Andrade)

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante tudo vai ser diferente.
Para você, desejo o sonho realizado, o amor esperado, a esperança renovada.
Para você, desejo todas as cores desta vida, todas as alegrias que puder sorrir, todas as músicas que puder emocionar.
Para você, neste novo ano, desejo que os amigos sejam mais cúmplices, que sua família seja mais unida, que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas… Mas nada seria suficiente…
Então desejo apenas que você tenha muitos desejos, desejos grandes.
E que eles possam mover você a cada minuto ao rumo da sua felicidade.”

E assim comecemos 2014 com o pé direito.