domingo, 24 de fevereiro de 2013

Reflexos da tecnologia

Agora que eu reparei, os TOCs que a gente tem quando faz uma coisa que é habituado.

Parece engraçado, mas é. Reparando, agora a pouco resolvi escrever um post sobre a punição na Libertadores, então eu me sentei, abri o Word, escolhi uma imagem no Google e… Antes de começar, me espreguicei, estiquei os braços.

Começo a escrever, mas os olhos estão ligados no rodapé do computador, cuidando de atualizações das redes sociais que participo, e não são poucas, tenho perfis diversos. No Twitter, na Skynerd, no Tumblr, no Skoob, no Filmow e recentemente, a pedidos, fiz um no Facebook (clique na rede social para ir aos perfis). Sem contar este e o outro blog, que andam quase sem atualização porque eu estou cansado e sem inspiração para escrever.

E dependendo do momento, quase todas essas redes sociais têm atualizações, ou seja, eu escrevo uns dois ou três minutos (normalmente termino um parágrafo) e paro para ver as atualizações.

O curioso é que apesar de tudo isso, eu ainda consigo ler inúmeros livros e revistas, assistir tv e vídeos, sair para ir ao cinema, além de trabalhar. Não entendo como isso tudo é possível. Por isso que muitas vezes eu sinto a necessidade de viajar e ficar longe de tudo, para poder reciclar as energias, afinal, todas essas atividades te sugam.

E viva a modernidade.


 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A Expedição

_ Sim, senhor. O senhor pode duvidar de mim, pode achar que por eu ser um homem do interior, um homem que não estudou e um homem que é simples, acabe inventando histórias para os turistas.

_ Não é bem assim, eu acredito que você conte verdades, mas essa história… não sei.

_ É a mais pura verdade, o senhor pode acreditar. Foi assim mesmo que aconteceu.

“…

Naquele tempo a tecnologia ainda não estava tão desenvolvida como hoje, viajar demorava dias, também não tinha esses telefones, essas coisas modernas, era tudo mais difícil, o rádio ficava mudo, as câmeras fotográficas eram com filme, tinha que revelar depois para ver se tudo tinha ficado bem no foco, era tudo diferente, mas era tudo muito mais simples.

Eu lembro quando aqueles estrangeiros chegaram (acho que eram americanos), dois doutores de universidade, se diziam arqueólogos e vieram com uma comitiva de uns 20 ou 25 homens, cheios de equipamentos, tinha tudo o que era de moderno na época, aparelhos de raios-X para vasculhar o solo, escutas (acho que chamavam de sonares), pás escavadeiras, enfim, estavam preparados para cavar um buraco do tamanho de uma caverna. Eles tinham tudo, até apoio do governo local para entrar mato adentro e montar acampamento perto daquela montanha, eles chamavam de sitio arqueológico, para achar tesouros antigos.

Mas aquele lugar era sagrado para os nativos, não como os cemitérios que a gente ouve falar que os Apaches tinham no Oeste dos Estados Unidos, não, ali era um lugar de morte, mas não de descanso eterno, era um lugar de sacrifícios. Esse tipo de lugar não é sagrado, eles falam assim, mas estão errados, esse tipo de lugar é amaldiçoado, ali só existe desgraça, morte, destruição. Eu era jovem na época, mas minha avó havia me contado histórias terríveis sobre aquele lugar. Reunindo toda a coragem que minha juventude permitia, além de algum atrevimento, eu procurei aquele que era o chefe da expedição e o avisei, falei tudo, contei sobre os sacrifícios, sobre os fantasmas, sobre a maldição, mas ele somente fez uma coisa, ele riu de mim, não aquele riso condescendente, ele riu com escárnio, desacreditando tudo o que eu falei, disse que eram crendices idiotas.

Apesar disso, ele me falou que gostara de mim, gostara do jeito atrevido com que eu havia ido procura-lo, que isso poderia me valer um emprego, se eu estivesse disposto a me esquecer das crendices e aceitasse ir com eles, como um guia, leva-los ao local onde aconteciam os sacrifícios. Ele acreditava que pelo fato de eu conhecer tantas histórias sobre a região, eu poderia leva-los até o local onde eles queriam ir. Na hora eu não disse nada, pedi um dia para pensar. Na verdade eu estava com medo, muito medo, precisava falar com minha avó, ouvir o que ela me contaria, o que ela me aconselharia. Se ela dissesse para eu não ir, eu recusaria, mesmo que me oferecessem meu peso em ouro.


Ela me olhou profundamente, ficou em silêncio, apenas mastigando aquelas folhas de coca, parecia olhar além de mim, como se visse meu fantasma, ficou assim por minutos, talvez horas, não sei, eu parado aflito, apenas suando, não me atrevia a limpar o suor da minha testa, não queria desconcentra-la. Ficamos assim por um bom tempo até que ela cuspiu aquelas folhas e a baba produzida por elas na fogueira, o clarão que fez parecia que ela tinha jogado pó de fogo, isso fez com que eu pulasse cerca de um metro para trás, não estava esperando e me assustei muito.

Ela espremeu os olhos, sorriu mostrando os dentes enegrecidos pela idade, depois me falou: “filho, você tem sua vida, sua obrigação na terra e não pode fugir disso. Você deve enfrentar seus desafios, mesmo que eles signifiquem que sua vida será encurtada. Seu caminho é tortuoso, com grandes nuvens negras a frente e a única pessoa que pode iluminar essa estrada é você. Se você escolher ficar, seguirá uma rota, se escolher ir, seguirá outra rota, mas ambas levarão ao mesmo lugar, a diferença está no tempo da caminhada.”

Depois disso, ela começou a cantar uma ladainha, dançar e andar ao meu redor, como se tivesse me benzendo e pedindo aos espíritos toda proteção que eu precisaria para a jornada, mas não me disse nada a respeito disso. Depois, ela me abraçou e falou: “Seja forte, mas lembre-se de que a prudência sempre é a melhor conselheira.”


Mesmo achando que estava fazendo as coisas erradas, no dia seguinte eu estava no saguão do hotel, esperando os arqueólogos, pronto para guia-los ao local dos sacrifícios. Novamente adverti ao chefe da expedição sobre os perigos que encontraríamos lá, novamente ele desdenhou. Dei de ombros e subi no jipe que lideraria o cotejo, afinal eu era o guia, tinha que estar na linha de frente, indicar os atalhos para chegarmos lá.

Saímos 9 da manhã, eu queria ir mais cedo para chegar lá ainda com o sol acima do horizonte, mas eles queriam tomar o café da manhã com calma, isso significaria que chegaríamos com os últimos raios do sol antes dele se deitar, teríamos que fazer uma fogueira logo para, usando sua claridade, armar o acampamento. Isso me preocupava.

Mesmo demorada, achei que foi um bom sinal o fato de nada nos atrasar, nenhum pneu furou, nenhum carro teve problemas mecânicos, nada, a parada para a refeição do meio-dia foi rápida, ninguém cozinhou, apenas comemos sanduíches que haviam sido preparados ainda no hotel. Nessa hora os arqueólogos conversaram entre si e depois comigo, querendo saber quanto tempo faltava, se haveria algum lugar indicado para instalar o acampamento. Eu lhes falei que chegaríamos ao cair da noite e que não me lembrava bem do lugar, mas que achava que poderíamos montar as tendas num platô que fica cerca de 100 metros de onde eles queriam escavar. Eles ficaram satisfeitos com as informações, mandaram todos subirem de novo nos jipes e seguimos viagem.

Como eu calculara, chegamos ao local no começo da noite, tivemos que ligar os faróis dos jipes e fazer uma fogueira para ter claridade suficiente para montar as tendas e para o cozinheiro fazer uma sopa para o jantar. Depois que montamos tudo, precariamente, comemos e fomos dormir, qualquer coisa, remontaríamos o acampamento no dia seguinte com o sol nos sorrindo e, depois do desjejum, começaríamos as escavações.


Tudo amanheceu bem. Algumas nuvens indicavam que teríamos chuva, o que esperar de uma floresta tropical em plena época das águas? Mas naquele momento o sol predominava, aquecendo o dia e despertando a tudo e a todos. Depois de uma breve inspeção em todas as barracas, chegamos à conclusão que não seria necessário nenhum reparo, pelo menos todas pareciam ter sido bem montadas. O café estava pronto, a alegria estava em todas as partes do acampamento, primeiro dia de trabalho, com poucas exceções de nativos que se juntaram à expedição na minha aldeia, todos já se conheciam de outros trabalhos, eles brincavam entre si, algumas vezes faziam brincadeira conosco, fosse por maldade para tirar sarro, fosse para nos enturmar, o fato é que apesar de todas as diferenças culturais, eles procuravam nos tratar como iguais.

Após todos comermos, todos permaneceram sentados em seus lugares e o chefe da expedição começou a falar, um blábláblá sobre a importância do trabalho que seria realizado, sobre as riquezas históricas que acharíamos, sobre estarmos fazendo história. Aquilo me entediava, mas parecia deixar os outros empolgados. Curioso o dom da palavra, não acha?


Tudo transcorreu bem até por volta de 2 da tarde, o primeiro fosso cavado já contava com mais de 2 metros de profundidade, quatro operários escavavam lá, com cuidado, pois havia suspeita de que em breve eles já encontrariam os primeiros artefatos, eles tinham parado com as máquinas e os quatro haviam descido por uma escada, com pequenas pás e pincéis, para remover as camadas de terra de forma mais delicada, não queriam quebrar os objetos de cerâmica que poderiam estar ali.

Foi quando tudo começou. Nem sei o que foi primeiro, parece que foi simultâneo, não sei. Um grito enlouquecedor veio da floresta ao nosso redor, parecia vir de um ser fantasmagórico e monstruoso, do alto das árvores macacos começaram a jogar fezes e galhos em nós, num ataque que parecia coordenado, e o pior, do fundo do fosso uma fumaça quase líquida começou a minar do piso, parecia água, mas ao mesmo tempo era etérea, não dava para definir nem mesmo a cor dela. Quando o primeiro trabalhador levou a mão até ela, para saber o que era, começou a uivar de dor, de desespero, ele ergueu o braço, sua mão já não estava mais ali, apenas ossos corroídos, nada mais do que isso.

Na pressa de sair do fosso, os outros três se precipitaram para a escada de cordas, tentando subir ao mesmo tempo, por mais nova que a escada fosse, ela não resistiu e arrebentou, os gritos daqueles homens até hoje me assombram, os coitados caíram dentro daquela fumaça. O coitado que havia perdido a mão, agora estava tentando fugir escalando a parede de terra, mas sem uma das mãos o trabalho era ingrato, o desespero atingia todo o acampamento, ninguém se preocupou em ajuda-lo, todos estavam tentando evitar o ataque que os macacos lançavam, agora mais furioso ainda. Não sei se alguém tropeçou naquela mesa ou se alguma coisa fez com que ela caísse, e ela caiu dentro do fosso, sobre o coitado sem mão, isso fez com que ele também encontrasse seu fim naquela fumaça… desculpe, fica difícil descrever aquelas imagens, aqueles quatro homens reduzidos a esqueleto por uma substância desconhecida, sobrenatural, não é fácil.

Enquanto isso, o restante de nós, bem, nós estávamos ainda correndo e desviando das coisas que os macacos jogavam em nós, por Deus, de onde eles tiravam tudo aquilo, eram fezes, galhos, frutas, pedras e sei lá mais o quê. O acampamento estava um pandemônio, a confusão era tal que ninguém deu atenção aos gritos que vinham da floresta, cada vez mais perto.

De repente, parecia que o arqueólogo chefe havia descoberto um lugar a salvo, onde os macacos não estavam atacando, ele chamava todos para lá, em poucos minutos mais da metade dos homens já estavam reunidos lá, foi quando eu tive o bom senso de pensar em não ir para lá, não sei por que, mas algo me falou que se todos nós ficássemos juntos o fim seria inevitável. Eu consegui me arrastar até debaixo de um dos jipes, onde fiquei relativamente protegido. De lá eu assisti ao mais assustador e perturbador show de horrores que se possa imaginar.

Logo depois de eu me refugiar sob o carro, quase todos os homens restantes estavam junto com o arqueólogo, naquele lugar, era uma fenda na parede da montanha, parecia que ela ficava mais larga na medida em que mais homens corriam para lá. Nesse momento os macacos começaram a guinchar e fugir, abandonando o ataque, foi tudo muito rápido. Antes que qualquer um pudesse sair de onde estava, surgiu do meio da mata, quebrando árvores e arrasando tudo, uma imensa cobra, parecia que ela gritava, era o som que havíamos escutado, o mais aterrador, além de comprida e grande, parecendo três troncos grossos de árvores juntos, ela tinha pés, quatro pés, o que fazia com que ela fosse mais rápida ainda. Quando menos esperavam, os homens naquela fenda estavam cercados, sem ter para onde fugir. Eles ainda reagiram bravamente, batiam na cabeça daquele monstro com as pás, com pedaços de madeira, mas nada fazia aquele monstro parar, nem mesmo quando o arqueólogo sacou um revólver e disparou seis vezes a queima-roupa contra a cabeça dela. Foi horrível, ela se banqueteou com todos eles, uns 15 ou 20 homens, não sei, todos foram engolidos, alguns inteiros, outros quebrados ao meio pelas mordidas daquelas mandíbulas, a cena era dantesca.

Não me orgulho em dizer que minhas calças estavam imprestáveis e exalando um fedor medonho, aquilo me preocupava, pois aquele mau cheiro poderia atrair o bicho quando ele terminasse o banquete, sei lá, poderia ser considerado como sobremesa. Mas por algum motivo qualquer, quando terminou aquela matança, a cobra lentamente, como se estivesse entrando em estado de letargia, se encaminhou de volta para a floresta, dessa vez fazendo menos estragos, sem derrubar árvores e sem gritar. Ela havia me ignorado, eu havia sido poupado para contar ao mundo sobre aquela tragédia.

…”

_ E foi assim que aconteceu, sem uma vírgula a mais ou a menos. Eu aconselharia o senhor a não continuar com seus planos. Ninguém sabe o que poderia acontecer se alguém voltasse àquele lugar maldito. O senhor está levando muitas vidas para o desastre total, não faça isso.

_ Essa história aconteceu há quanto tempo? 30, 40 anos? Ninguém nunca mais ouviu falar desse monstro, será que ele já não morreu?

_ E o senhor sabe quanto tempo aquele bicho leva para fazer a digestão daquela refeição? E se ele apenas estiver hibernando, esperando o momento de acordar e comer novamente? Quem garante que ele tenha voltado para a profundeza dos infernos de onde saiu? Meu conselho é para o senhor desistir e ir fazer buracos em outro lugar, ali tudo cheira a morte.

_ Mas o museu está pagando muito bem por essa expedição.

_ Bom, eu o avisei.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

E a saga gera derivados

Tem alguns dias (mais de uma semana) que eu não atualizo nem posto nada no blog. Não foram férias, nem motivo de doença, apenas o meu foco foi direcionado para outro local. Nem melhor, nem pior, apenas para dar uma fuga criativa, afinal, não sou robô, tem horas que eu canso também.


Mas não é sobre isso que eu vou falar, é que nesse ínterim eu aproveitei para ler (grande novidade, isso é o que eu mais faço). Li duas publicações que são Spin Off de uma das séries literárias mais lidas e comentadas desta década, Game Of Thrones.


Li primeiramente um guia feito por uma publicação nacional que já tem pelo menos 25 anos de estrada nas bancas brasileiras, que busca fazer um apanhado geral dos livros, dando também alguma informação sobre a série que a HBO fez (e continua fazendo).

Depois li a primeira parte da adaptação para os quadrinhos do primeiro livro, um trabalho bem feito e bem cuidado, que trás o começo da saga. Eu que sou fã da arte sequencial (como são chamadas as histórias em quadrinho), fiquei de queixo caído com a qualidade dos desenhos, a facilidade da narrativa, enfim, do conjunto da obra.

Não existe como comparar o livro com a revista, o próprio George R. R. Martin reconhece as dificuldades de adaptação ao escrever o prefácio da edição, afinal é muita informação descritiva e narrativa para se passar para o desenho.

Ainda não li os livros, mas ao ler essas duas revistas a vontade de ler os livros aumentou, o que posso falar é que assim que estiver terminando as minhas leituras atuais começarei a conhecer o mundo de Starks, Lannisters e outras famílias que povoam essa mitologia, veremos se meu entusiasmo com esses dois derivados se confirma. O fato é que ambas as edições valem uma releitura, seja para se orientar na saga, seja para ter uma referência visual desta. Boas leituras sem dúvida.