sábado, 28 de setembro de 2013

O Convite

Ele estava sentado em sua mesa de trabalho, quando Josh chegou e lhe falou:
 
_A empresa vai reformular o periódico dos funcionários, você não quer participar escrevendo uma coluna?
 
Ele olhou intrigado e respondeu:
 
_Como assim? Eu nem sou jornalista, só escrevo alguns textos no blog, por diversão.
 
_Mas o periódico não é profissional, é dos funcionários – Josh insistiu – e a sua coluna seria para você escrever o que você quiser.
 
_Não sei, tem gente mais capacitada, que tem curso universitário, que sabe escrever sem erros de português. – ele falou descrente.
 
Josh abanou a cabeça, negativamente.
 
_Não, você não está entendendo, não queremos uma pessoa para fazer textos profissionais e técnicos, queremos você, que vai escrever com seus sentimentos, vai mostrar o seu ponto de vista das coisas, do Mundo. O convite é para você nos mostrar seus pensamentos. Você sabe que eu conheço seu blog, seus textos, sabe que é isso que eu quero mostrar para todos.
 
E continuou.
 
_O periódico vai ser quinzenal, você nem terá pressão de ter que produzir um texto por semana ou mesmo dois ou três, como se trabalhasse num jornal de verdade. Eu sei que você gosta de escrever nos finais de semana para o blog, escrever um texto a mais, a cada quinze dias, é menos complicado. Outra coisa, depois que passar os quinze dias, quando sair outra edição, você poderá publicar o texto da sua coluna no blog, afinal o texto será seu mesmo.
 
_Não é tão fácil assim, você que não escreve acha que a gente chega na frente do computador olha para a tela e sai escrevendo – ele rebateu – muitas vezes eu fico olhando para a tela vazia, sem saber o que escrever, mesmo sendo um blog amador, o trabalho de criação é difícil.
 
_Tá certo, eu não sei como é, mas o convite, melhor, a intimação está feita, não aceitamos um não como resposta. Volto a falar contigo na semana que vem, para dizer quando sairá o primeiro número, até lá, vai pensando na primeira coluna. – Josh falou, se levantou da cadeira e foi embora antes que ele pudesse lhe responder.

domingo, 15 de setembro de 2013

O sobrevivente

Ele seguia sem rumo naquela cidade fantasma, ruas e ruas desertas, nenhuma coisa viva no alcance dos olhos, mas ele sentia que não estava só, sentia sobre si olhos desconhecidos que o acompanhavam desde que havia chegado naquele conjunto de concreto e metal.

Ainda tentava entender o que havia acontecido, anos já se passavam desde que o Mundo havia mudado, desde a hecatombe, quando as leis da física deixaram de existir, desde que as formas de energia se esgotaram ou sumiram, desde que os tecnomagos surgiram e mudaram a vida de todos.

Ele havia perdido família e amigos, mas continuava seu percurso, em algum lugar haveria de achar alguns sobreviventes, gente normal que, possivelmente, também estariam brigando para sobreviver nesse mundo insano, aonde a magia se mesclava com o que sobrara da tecnologia. Ele já havia visto e enfrentado seres bizarros, pobres criaturas transformadas em máquinas, os zumbots (mistura de zumbis e robôs), tanto humanoides como dos mais variados animais.

Só sobrevivera graças ao treinamento militar que tivera no fim da adolescência, quando passou como recruta do exército por um período de seis meses em um quartel. Na época ele odiava as ordens dos sargentos, detestava os cabos que agiam como carrascos, mas agora agradecia por ter aprendido com eles a atirar, a se virar em ambientes inóspitos, enfim, aprendido a sobreviver.

Ele aprendeu a carregar consigo o necessário, quanto menos peso levasse mais fácil era escapar, se escondendo em lugares escuros e apertados. Assim, trajava uma camisa de mangas compridas, branca, um colete cheio de bolsos, caqui, uma calça preta de tecido resistente e botas pretas, que chegavam perto dos joelhos. Em uma das botas carregava uma faca de caça, daquelas parecidas com a que o Rambo usava, na cintura trazia duas armas, um revólver calibre .38 e uma pistola .380, as munições e carregadores eram levados nos bolsos do colete. Nesses bolsos ele também levava um canivete e uma lanterna, alguns curativos e medicamentos, coisa para primeiros socorros. Nas mãos carregava um rifle semiautomático .38. Para comer, somente algumas barras de cereais e chocolates, fora isso, quando achava em alguma casa ou mercados e restaurantes, fazia alguma refeição mais substancial, levando consigo o máximo de alimento não perecível que conseguisse.

Ele continuava andando com cuidado pelas ruas daquela cidade, olhando para cada sombra, procurando não fazer barulho, mas o solado de borracha de suas botas parecia ser de metal, aquele local era silencioso como um cemitério, seus passos ecoavam nas paredes dos prédios como uma bateria de escola de samba. Ele continuava com a impressão de ser vigiado.

Quando ele chegou à área central da cidade avistou algumas quadras a frente um parque, ele pensou que seria bom se ele cruzasse aquele caminho, pois se alguém realmente o estivesse seguindo, teria que sair para local aberto, e assim perder o anonimato. Ele acelerou seus passos, quase correndo, para cobrir a distância rapidamente e não dar chances para que o pegassem naquelas ruas cercadas de edifícios altos.

Assim que atravessou os portais de ferro que davam passagem aos passeios largos, cercados de grama e arbustos dos dois lados, ele respirou mais aliviado e reduziu a velocidade, olhando com calma ao redor. Ele tinha se esquecido da marcha do tempo, não se lembrava de qual dia da semana ou mês estava, mas pelo cenário, com o gramado amarelado e as árvores quase sem folhas, se lembrou de que estavam no final do outono e em breve o inverno chegaria. Ele precisava achar um lugar para passar os meses frios. Depois das mudanças, os invernos eram realmente frios, com neve caindo em muitos lugares onde a temperatura média era superior a 25°C o ano todo. Dessa vez ele estaria sozinho, pois neste último ano perdeu seu companheiro de viagem, como ele sentia falta dele, seu fiel cachorro que sucumbiu à idade avançada.

Ele estava quase no meio do parque quando ouviu um barulho metálico assustador, algo que ele nunca tinha ouvido não se parecia com zumbots, era mais metálico, parecia maior e mais ameaçador. Ele olhou para uma área de piqueniques, ao lado de um lago e viu algo que lhe tirou o fôlego, um carro se movia como um inseto, com seis patas metálicas, um inseto de mais de 600 quilos de puro metal, que se dirigia vagarosamente em sua direção. Ele chegou a levantar o rifle e mirar no vidro do para-brisas, mas desistiu de puxar o gatilho, iria desperdiçar uma bala e não faria nem cócegas no monstro mecânico.

Ele olhou ao redor e procurou uma rota de fuga segura, escolhendo seguir pela sua direita, começou a correr, mas isso pareceu despertar de vez o monstro, que acelerou os passos e se pôs a persegui-lo.

Quando estava quase sendo alcançado, ele passou por um par de árvores de troncos grossos e ouviu um barulho de cordas se esticando. Ele não parou, nem quando ouviu um barulho alto de ferro se chocando contra o chão, achou um banco alguns metros a sua frente e se escondeu atrás, somente depois disso olhou de onde vinha o barulho.

Ele se surpreendeu ao ver um velho e dois jovens ao lado do monte de ferro retorcido que era o monstro até alguns minutos atrás, eles não se pareciam nem se trajavam como tecnomagos, logo deveriam ser sobreviventes, além disso, eles haviam o ajudado a sair dessa perseguição.

Os três pareciam examinar o interior do carro, como se procurassem sobreviventes ou alguma coisa que pudessem usar, mas logo desistiram, olharam para ele e andaram em sua direção. O velho se apresentou como Walter, um ex-jogador de rugby, e disse que os jovens eram seus sobrinhos, Wallace e Javier, que haviam sobrevivido à hecatombe, mas perdido os pais, desde então os três sobreviviam naquela cidade, sempre buscando um jeito de destruir as máquinas que circulavam por lá. Ele, por sua vez, contou sua história, sobre sua peregrinação pelas terras desoladas e sua busca por sobreviventes.

O tempo passava e o entardecer já avançava, quando Walter o convidou para irem a seu refúgio, pois à noite outras máquinas e zumbots vagavam pela cidade, atacando e levando prisioneiros para o quartel-general do seu criador.


terça-feira, 10 de setembro de 2013

A verdade está lá fora há 20 anos

Faz 20 anos que Chris Carter nos apresentava dois personagens que seriam imortais para os fãs de ficção científica, a cética Scully e o pio Mulder, agentes do FBI que trabalhavam no setor chamado Arquivo X.

Sim, num dia 10 de setembro, no já longínquo ano de 1993, estreava nos EUA, no canal Fox, a série que moveria fãs ao redor do mundo, trazendo todas as semanas mistérios intrigantes que, quase sempre, envolviam o sobrenatural e extraterrestres.

Não me lembro da data em que a série estreou no Brasil, no canal da Rede Record (tempos em que eu não tinha tv por assinatura), mas raríssimas vezes eu deixei de ver o episódio que era apresentado nas noites de sextas-feiras. Sempre a química entre os agentes e os mistérios investigados faziam com que eu ficasse quase que hipnotizado na frente da tela, aguardando o que aconteceria, fosse O Assassino Imortal (Eugene Toons), fosse o Gólen, ou, talvez, um enxame de insetos misteriosos no meio de uma floresta tropical.

Fica até difícil falar, tantas as histórias que foram narradas, o fato é que Mulder e Scully têm um lugar de honra na galeria de heróis improváveis da ficção científica.


domingo, 8 de setembro de 2013

A viagem

Tchu, tchu, tchu...

Ele tinha a impressão que se saísse do vagão e empurrasse o comboio aquela viagem seria mais rápida, aquele trem parecia ter saído do início do século passado, tão lento ele se locomovia. Sua tentação era ir até à cabine e perguntar o que o condutor queria para acelerar aquela viagem. Aquela vagarosidade era irritante, e ficava pior ainda quando eles começavam a subir um morro.

Ele tinha compromisso em dois dias, numa cidade que não conhecia, mas sua noiva insistira em se casar junto à família, não só os pais, que foram à capital quando foi oficializado o noivado, mas todos, avós, tios, padrinhos, cachorro, gato e papagaio, enfim, todos aqueles apêndices que veem junto. Disseram para ele que na cidade havia um antigo namorado de infância dela, e que esse rapaz seria capaz de subornar o padre para oficializar o casamento dele, caso o ‘noivo da capital’ não chegasse a tempo. Ele tinha dúvidas sérias se isso era verdade, mas não pagaria para ver. Isso era outro motivo que aquela lerdeza o irritava.

Quando eles se conheceram, os amigos acharam aquele romance muito estranho, já que ela não era tão atraente quanto as outras namoradas, essa beleza mais discreta era compensada pela simpatia e alegria. Depois, quando souberam que o pai era fazendeiro e tinha uma grande fazenda de pecuária, ficou aquela troça, que era ‘golpe do baú’, coisa que ele garantia que não era verdade.

Enquanto ele divagava sobre esse passado, andava pelos corredores dos vagões, a ansiedade o dominava. Ele não entendia porque ir de trem, quando de carro seria mais rápido, mas ela havia insistido, não quis dizer o motivo, apenas queria que fosse dessa forma e ele aquiesceu. Era uma boa oportunidade para ele observar os passageiros, gente da mais variada etnia e procedência, era uma confusão de sotaques que ele nunca teria imaginado.

Tchu, tchu, tchu...

O que mais o desesperava era as paradas, em qualquer cidadezinha, onde havia uma estação, era feita uma parada, mesmo que ninguém subisse ou descesse. O pior era quando alguém subia, pois lá vinha o encarregado de verificar as passagens. Se todos comprassem as passagens no guichê, na estação, seria fácil, mas alguns insistiam em subir e pagar a passagem no vagão, como se desconfiasse do vendedor, ou sabe se lá por quê. Mas esses eram o que faziam mais confusão, conferindo o destino, o dinheiro do pagamento, reclamando que o troco estava errado, um caos.

Aquele trem estava de brincadeira, não andava, a impressão é que se ele fosse andando chegaria mais rápido. Nisso ele se lembrou da viagem ao exterior, daqueles trens balas, que cobriam centenas de quilômetros em menos de uma hora, ah, se aquele trem fosse assim.

Para se distrair, ele tentou rememorar o dia do noivado, o nervosismo de conhecer os pais da noiva, a preocupação se ele seria ‘aprovado’ e aceito. Qual a decepção ao ver que os dois, apesar do dinheiro, eram simplórios. O pai fez várias piadinhas grosseiras e machistas, a mãe era preocupadíssima com a honra da filha, foi difícil falar algo do mesmo nível, mas ele não queria parecer esnobe, então falou o que achava que os dois esperariam que ele falasse.

A preocupação fez com que ele ficasse com vontade de ir ao banheiro, nervosismo? Quem sabe. Novamente ele começou a atravessar os corredores do vagão, ouvindo a balburdia que os passageiros faziam, foi assim até chegar ao banheiro, ou melhor, à fila do banheiro. Aquilo se assemelhava a um desafio maior do que aguentar a lerdeza do trem, mas ele precisava entrar no banheiro, teria que ter paciência.

Aquela viagem o estava enlouquecendo. Chegou a olhar no celular o telefone de um amigo que havia se formado em direito, pensou em ligar-lhe, estava disposto a achar uma brecha na legislação e processar alguém, o maquinista, o cobrador, a empresa, até mesmo o presidente desta, aquela viagem estava fazendo-lhe muito mal.

Tchu, tchu, tchu...

(Baseado na música Maria Fumaça de Kleiton e Kledir)


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Um contato imediato de muito humor

Logo no prefácio, o próprio Maurício de Sousa classifica Magnetar como uma aventura solitária e introspectiva, já Laços é uma fábula sobre a amizade. Bem, seguindo essa linha, Pavor Espaciar é uma comédia ao melhor estilo dos Reis do Riso.


Isso é fácil de explicar, o estilo do autor desta Graphic Novel, Gustavo Duarte, é mais visual que falado (ou escrito), as imagens são ricas, ágeis e contam bem a história, sem a necessidade de grandes textos explicativos, lembrando a agilidade dos clássicos do cinema mudo. Além disso, apesar de a temática ser um contato com extraterrestres, o que se sobrepõem é a veia cômica, lembrando as deliciosas matines de Charles Chaplin, Harold Lloyd e Buster Keaton.

Todos os encantos do caipira Chico Bento estão presentes, assim como de seu primo, Zé Lelé, toda aquela forma simples do morador do interior do Brasil, o matuto que todos conhecemos bem. Aqui eles têm como coadjuvantes o porquinho Torresmo e a galinha Giselda, que são fundamentais à trama.

Além da riqueza do roteiro, a arte é um verdadeiro Easter Egg, cheio de surpresas e pegadinhas, como uma arma espacial cultuada por fãs de ficção científica, um astro pop (que já foi chamado de ET em outra mídia), além de muitas referências a mistérios e lendas que envolvem os discos voadores.

Uma leitura deliciosa, daquelas que garantem muitas risadas, que vale cada minuto, e que venha a próxima Graphic.


domingo, 1 de setembro de 2013

Um discípulo da magia

Um garoto de óculos, cabelos desgrenhados, solitário, entrando na adolescência, que de repente descobre que pode ser um mago, o maior mago de seu tempo, para isso ele começa a percorrer as histórias imemoriais da magia, colhendo conhecimentos que poderão ser úteis um dia. Não, não estou falando de Harry Potter, mas de Tim (Timothy) Hunter, o personagem principal de Os Livros da Magia, do brilhante Neil Gaiman.

Há muita discussão e controvérsia se Harry Potter é ou não é plágio do personagem que Gaiman criou para a DC Comics. Inegavelmente a descrição acima pode se encaixar nos dois personagens, Hunter também tem como bichinho de estimação uma coruja, se bem que Ioiô, como o nome diz, foi transmutada de um brinquedo de mesmo nome, ao contrário da coruja branca de Potter.

J. K. Rowling pode nunca ter lido ou sequer ouvido falar do personagem dos quadrinhos, mas entre ambos há muitas semelhanças, porém estas param por aí. Potter teve Hogwarts, Hermione, Ronny, Dumbledore, Snape e outros em sua vida, preparando-o por anos para seu grande desafio, já Hunter foi orientado por quatro membros da Brigada dos Encapotados, John Constantine, Mister Io, Vingador Fantasma e Doutor Oculto, que o levam para uma jornada de dias em mundos e universos paralelos, levando-o aos princípios dos tempos, passando pelo presente e por terras fantásticas, até o fim de tudo.

Uma jornada que mostra todos (ou quase todos) os personagens místicos da Editora, nomes como Etrigan, Zatanna, Morpheus e os Perpétuos, Senhor Destino e outros. Todos contribuem direta ou indiretamente para se ter uma visão ampla do que é a magia nesse universo, “a sombra que existe no meio da realidade”.


Uma edição bem tratada que vale a pena ser lida.