quinta-feira, 30 de maio de 2013

A história de João de Santo Cristo

E quando você sai do cinema e não sabe se gostou ou não do filme que você assistiu? É assim que eu me sinto, não sei se gostei ou não de Faroeste Caboclo.


Sei que não dá para transformar uma letra de música num filme sem colocar extras e adaptar imagens, mas não é isso, o filme traz a letra da música, tem a liberdade de mostrar de forma mais crua a realidade do tráfico, desnuda a pobreza dos bairros mais humildes das cidades satélites do Distrito Federal, enfim, monta um bom enredo em cima de uma letra inspirada e das mais cultuadas do Pop/Rock dos anos 1980.

A interpretação de um modo geral também não deixa a desejar, pelo menos três personagens se destacam pela interpretação de seus atores, Pablo (o peruano que vivia na Bolívia e era neto bastardo do bisavô de João), o Policial corrupto (aliado de Jeremias) e o próprio João de Santo Cristo. Maria Lúcia também não faz feio, já Jeremias parece mais exagerado e destoa um pouco, mas essa é a minha opinião.

Depois de muito pensar, cheguei à conclusão que o que mais me incomodou no filme foi seu ritmo. Não é para ser um filme de ação, mas achei que para o que conta a música, faltou movimento. O filme leva cerca de uns 15 minutos para decolar, seu começo é muito moroso, depois vai ganhando algum ritmo, mas toda hora esse ritmo acaba quebrando, há cenas que poderiam ser mais econômicas, sem prejudicar a história, há momentos que ficam subentendidos por que falta tempo para melhor explicação (tempo este que poderia ser aproveitados das cenas excessivas).

Ainda não sei se gostei do filme, mas ele cumpre bem seu papel, que é visitar uma história que foi contada numa música. Uma música que acompanhou o crescimento de uma geração, que foi cantada durante anos, vivendo no imaginário coletivo, sendo acalentada no âmago da juventude brasileira dos anos 1980.

domingo, 26 de maio de 2013

A fronteira final

O espaço, a fronteira final… desde que o homem olhou para o céu noturno e viu as estrelas, ele sonha em conquista-lo. Foi assim que surgiram os deuses, foi assim que se desenvolveram ciências, foi assim que se criou a ficção.

Nomes como Galileu, Júlio Verne, Méliès, entre outros, todos, a seu modo, sonharam com o céu estrelado.

E esse sonho ganhou contornos mais nítidos à medida que a tecnologia de filmagens permitia filmes e séries como Jornada nas Estrelas, Perdidos no Espaço, Guerra nas Estrelas, E. T. e tantos clássicos. Mas essa é só a parte lúdica da conquista espacial, o sonho da ficção. Ficção esta que vai cada vez mais ganhando massa e se tornando palpável.

Talvez uma viagem ao espaço ainda demore a ser feita, por causa dos custos envolvidos e pela necessidade de se conseguir a manutenção da vida humana, já que as distâncias são incomensuráveis e não existe uma tecnologia que atinja e supere a velocidade da luz para cobrir as mesmas. Mas hoje em dia sondas espaciais já se encontram no limiar do sistema solar conhecido e ainda seguirão além, mandando dados para a Terra enquanto suas baterias tiverem cargas, depois elas rumarão ao desconhecido, solitárias e mudas, desbravando o desconhecido e instigando novos sonhos à já fértil imaginação humana.

Telescópios cada vez mais potentes e das mais diferentes tecnologias vasculham os confins do céu, capturando imagens inéditas, descobrindo galáxias novas, dando mais nitidez aos astros já conhecidos.

Talvez o espaço seja a fronteira inalcançável e o homem nunca ultrapasse a distância da Lua, mas com os desenvolvimentos científicos da humanidade, seu imaginário já ultrapassou todos os seus limites.

domingo, 5 de maio de 2013

Sempre Forte

Uma juventude ociosa, uma cidade com poucas opções noturnas, todas as novidades vindas da Europa e EUA chegando primeiro lá, por causa das embaixadas. Isso num tempo onde globalização não era nem sonhada pelos visionários.

Na Inglaterra o movimento punk que se revoltava contra a realeza e o sistema produzia sua própria música com os Sex Pistols e o The Clash entre outras bandas. Aquela atitude contestadora espelhou bastante na Capital brasileira, onde os jovens se encontravam em contato com o centro do poder da ditadura militar. Filhos de funcionários públicos, de professores universitários e de militares, até, começam a criar um underground punk em Brasília, com roupas que chocavam a sociedade, mas principalmente levantando sua voz através da música, tentando acordar os adultos de seu estado letárgico. Numa utópica luta pela liberdade de expressão (nada de ideologias políticas, apenas a liberdade de fazer o que quiser).

É nesse cenário que surge um dos movimentos musicais mais ricos da cultura brasileira, o Rock de Brasília. Bandas como Plebe Rude, Capital Inicial, Aborto Elétrico e Legião Urbana são bandeiras desse período, rico sonoramente, com seus riffs de guitarras e suas letras contundentes.

E essa é a história que “Somos Tão Jovens” conta, tudo através daquele que talvez seja o maior ícone de sua geração, cultuado até hoje, mesmo depois de quase 20 anos da sua morte, Renato Russo.

Acompanhamos sua trajetória dos tempos de adolescente, com sua saúde frágil, até a entrada no mundo adulto e seus conflitos, como professor de inglês e seu sonho de ser uma estrela do rock. Suas amizades, seus dilemas no campo amoroso, seus ídolos, enfim, toda sua personalidade sendo moldada.

Somos apresentados ao primórdio de tudo isso, com o Aborto Elétrico, onde suas primeiras composições ganham vida, os desafios dos primeiros ensaios e primeiros shows, a conflito de personalidade com seu amigo e companheiro de banda Fê Lemos, as idas e vindas como o Trovador Solitário, até a chegada da Legião Urbana. Tudo isso regado por músicas conhecidas e que trazem um gosto de nostalgia.

E todo esse percurso não é feito só por Renato, nomes conhecidos aparecem em todo momento, vemos na tela versões de Herbert Viana, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá, Fê e Flávio Lemos, Dinho Ouro-Preto e outros nomes do Rock de Brasília.

Um caminho cheio de lembranças para quem era adolescente nesse período e que, mesmo vivendo longe de Brasília, viveu a explosão do rock nacional dos anos 1980.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A Tempestade

Ainda era uma e meia da tarde, mas não parecia, a luz caiu vertiginosamente e em questão de minutos tudo ficar mais escuro que a noite. Era esperado, pois a Guarda Costeira havia dado o alerta de tempestade por volta das nove horas, avisando aos pescadores e barqueiros para que eles recolhessem suas embarcações no píer.

As escolas tiveram suas aulas canceladas, os funcionários públicos dispensados, até mesmo os dois supermercados da cidade fecharam suas portas e mandaram todos os empregados para casa. Enquanto ele ia para o farol, perto do meio-dia, parecia estar andando numa cidade fantasma, todos os moradores haviam obedecido aos conselhos de segurança e estavam trancados em casa, aqueles que podiam sair da cidade para lugares mais altos provavelmente fizeram-no, mas todos deveriam estar rezando para que a borrasca fosse menor do que se anunciava.

Aquele farol era antigo, deveria ter mais de quarenta anos, talvez mais, já fora importante, naqueles anos em que a aviação era pouco desenvolvida e as viagens para a Europa eram realizadas de transatlânticos. Ele não entendia a importância do farol, afinal ali não tinha nenhum porto de grande porte, parecia ser um elefante branco naquela comunidade pesqueira. A verdade é que ele não havia se preocupado em conhecer a história do lugar e conhecer os motivos que no passado fizeram alguma autoridade construir aquele farol, talvez tenha sido apenas uma forma de desviar dinheiro, quem sabe houvesse mesmo alguma importância estratégica, mas aquilo era passado. Hoje, para ele, o importante era que o farol lhe garantia sua sobrevivência, era o seu emprego há quase dois anos e ele não iria deixar de assumir seu posto por causa de uma chuva. Ele ficaria lá por vinte e quatro horas, manteria a luz potente do farol ligada a todo custo e depois voltaria para sua folga de setenta e duas horas.

Normalmente o trabalho era relativamente fácil, ele ligava a lâmpada especial por volta de seis e meia ou sete horas, quando o sol descia no horizonte, e desligava ao amanhecer, por volta de cinco e quarenta e cinco do dia seguinte. O restante do tempo era gasto com a manutenção e limpeza da torre, raras vezes ele tinha que proceder a troca da lâmpada, quando esta atingia seu tempo útil de vida, outro trabalho era manter o gerador a diesel em condições de uso. Ele não se lembrava de quando teve que acionar o motor diesel para garantir que a lâmpada continuar ligada, isso acontecia quando o fornecimento de energia elétrica era cortado, mas fazia tempo que isso não acontecia.

Restava-lhe bastante tempo para que ele fizesse algo que gostava muito, ler. Já lera boa parte da obra de Shakespeare, livros mais recentes de bons autores, outros clássicos da literatura. Como ele tinha que ficar acordado a noite toda, para evitar algum incidente com o farol, a cada plantão se munia de dois ou três livros antes de seguir para o trabalho. Pelo menos oito ou nove horas do seu turno eram tranquilas o suficiente para que ele pudesse se sentar e ler.

Sempre que o sono começava a esgota-lo, principalmente no meio da madrugada, ele largava a edição sobre a mesa e fazia uma ronda completa no farol, andava por toda a torre, subindo e descendo as escadas, olhava o pátio e também a sala de iluminação. Toda essa movimentação ajudava a despertar, ele também bebia um café forte e voltava a ler.

Mas isso era rotina, hoje a situação se apresentava diferente.

Os livros ficaram em casa, as atenções ao gerador e à lâmpada estavam redobradas, pois as chances de o fornecimento de eletricidade ser cortado eram grandes. Ele olhou preocupado para as nuvens carregadas e subiu a escadaria em caracol para ligar a lâmpada do farol, depois ele se instalaria na antessala do motor, munido com uma lanterna e um lampião, para se guiar caso tudo ficasse escuro e ele precisasse ligar o gerador.

Ele subiu até a cúpula e olhou pelas vidraças, as gotas começavam a engrossar e se avolumar, a tempestade começava a mostrar sua carranca. Aquela seria uma longa jornada.