domingo, 7 de abril de 2013

Caráter


Quem é da minha geração deve se lembrar de uma propaganda de cigarro, que tinha como principal nome o Gérson, o Canhotinha de Ouro, campeão mundial de 1970 pela seleção brasileira. Não lembro com exatidão as palavras, mas ele falava que ‘o brasileiro sempre gostava de levar vantagem’. Daí surgiu a chamada Lei do Gérson, que também é associada ao ‘jeitinho brasileiro’.

Na época a propaganda foi bem aceita, mas depois, a ligação dela com a ‘malandragem’ brasileira, fez com que ela fosse renegada, odiada até, pela maioria da população. E não é para menos. Além disso, muitos creditam a péssima imagem nacional no exterior a ela também.

Hoje em dia, a situação não é melhor, com os escândalos políticos, as barbaridades criminais que pululam nos noticiários, e outras coisas, incluo aí delitos considerados menos graves, como baixar filmes na internet e similares (com a desculpa que já se paga muito por diversas coisas e que acha caro o original), tudo isso é o ‘jeitinho brasileiro’ que denigre a nossa imagem lá fora.

Mas, neste final de semana, lendo uma edição especial de 70 anos do personagem da Disney, Zé Carioca, observei que a péssima imagem não é coisa recente, já no final dos anos 1930, começo dos anos 1940, quando Disney veio ao país (num esforço de ‘boa vizinhança’ que os EUA estava fazendo para evitar que os países latino-americanos viessem a apoiar o ideal nazifascista que se propagava na Europa), ele realizou observações para a criação de um personagem tupiniquim.

Disney e alguns de seus artistas estiveram no Brasil e conheceram o Rio, visitando a Escola de Samba da Portela, a praia de Copacabana, o Pão-de-Açúcar e outros pontos turísticos da, então, capital brasileira. Também teve um encontro com o Presidente na época, Getúlio Vargas. Sempre filmando e fotografando os cenários e observando as pessoas, como se comportavam, falavam e viviam.

Foi assim que o papagaio simpático ganhou as páginas dos quadrinhos e as telas do cinema. Mas, se hoje em dia ele é um adorável malandro, seu início foi bem mais contraventor, mostrando uma imagem do brasileiro que hoje em dia o país luta para mudar.

A descrição na introdução da revista de aniversário é bastante contundente e mostra a imagem que eles tinham já naquela época dos brasileiros, ela fala: “Amoral, mulherengo e fumante de charutos (…) desconhece a fidelidade aos amigos e mente sem pudor para se dar bem…” entre outros atributos, falando que para encarnar o malandro das noites cariocas faltava apenas a bebida.

A conclusão que se pode chegar é que a nossa má fama aos olhos estrangeiros é mais antiga do que percebemos, que apesar de tudo ela diminuiu uma pequena parcela, mas para mudar totalmente, o caminho é muito longo. Se os exemplos que citei no começo deste continuarem a ser praticados, essa mudança e melhora de imagem vai ser bastante demorada. O que é uma infelicidade.

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