sábado, 22 de dezembro de 2012

De deserto e pedras

“…

Quantos dias ele estava por ali? Já não sabia responder, poderiam ser dois, dez. Quem sabe?

A bússola estava quebrada, não mostrava nenhuma direção, pelo menos parecia girar a esmo dentro da caixa, indecisa em que lado estava o Norte. O mapa havia se partido e parte dele voado com o vento, o retalho que sobrou não ajudava em nada. Mesmo as estrelas e o sol pareciam brincar e atrapalhar seu senso de direção, ele ia dormir e via uma pedra a sua direita, que lhe servia de ponto de orientação, quando acordava, parecia que alguém, por brincadeira, havia movida a pedra para outro lugar, totalmente diferente de onde ele lembrava que ela estava.

Ele estava perdido, definitivamente, e parecia que seu futuro era a morte, pois seu cavalo já havia morrido há dois dias e sua comida estava acabando. Sua água, mesmo racionada, daria para dois dias, se muito.

Como ele tinha chegado ali? Já não importava mais, a rês que havia fugido e que ele fora incumbido de recuperar também já era só ossos. Ele sabia que não deveria ter se aventurado através daquele deserto atrás dela, mas parecia que seria fácil, uma cavalgada de dois, três quilômetros, uma meia-volta e mais um trotar do cavalo e ele estaria em segurança. Ah, ledo engano, aquela rês era arredia e esperta, ele demorou quase três dias para conseguir alcança-la e mais um para conseguir laça-la. Nesse momento já era tarde, ele estava perdido.

Agora ele tinha que parar de pensar, olhar para o horizonte e tentar reconhecer aquelas montanhas, talvez se orientando por elas ele ainda conseguisse escapar com vida. Mas o problema imediato era conseguir abrigo, um vento forte começava a zunir, uma tempestade de ar que só ali existia, ele tinha que sobreviver a ela.

Ele sabia que durante as noites esse vento vinha forte, mas ele sabia se proteger, agora o vento era durante o dia, ele não teria tempo de cavar uma trincheira, teria que se virar com o que tinha.

Então, de repente, ele esfregou os olhos, como se não acreditasse. Já tinha ouvido falar, mas achava que era mais uma lenda dos velhos vaqueiros, não poderia ser verdade. Ele olhava e não acreditava. Agora entendia porque ao acordar não encontrava as pedras no lugar onde julgava que elas estariam, mas sim e outro totalmente diferente.

Na sua frente, enquanto ele tentava se abrigar, uma pedra começou a deslizar pelo solo, deixando atrás de si um sulco no terreno seco, como se fosse uma trilha deixada por um animal. Isso explicava muita coisa.

Mas talvez agora fosse um pouco tarde, ele deveria ter se guiado pelas montanhas, mas preferiu outras opções. Sua vida agora dependeria de ele conseguir superar a sede e a fome, andar o mais rápido que pudesse e conseguir achar alguém que o salvasse, sua batalha era contra o tempo e agora muito mais.

…”

(devaneios sobre uma foto de Racetrack Playa, no Deserto do Mojave, EUA, local onde o vento é tão forte que consegue deslocar pedras, que deixam rastros ao longo do caminho).

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