terça-feira, 18 de junho de 2013

Guy Fawkes e a máscara

Os brasileiros estão na rua em todo o país, manifestações contra a corrupção começaram em São Paulo porque a PM local tentou acabar com um protesto por causa do aumento da passagem de ônibus. Aquilo foi o estopim, o povo estava cansado e indignado com o cenário existente, impostos absurdos, saúde e educação precária, corrupção em todas as instâncias governamentais (de federal a municipal), enfim, aquilo que parecia nunca ter fim. Pode ser que daqui um tempo, sei lá, um ano, uma década, isso acabe mudando de vez, não será uma coisa instantânea, repentina, mas gradual, não se engane, e todos nós teremos que manter a vigilância para que toda essa movimentação não caia no esquecimento.

Mas não é sobre isso que eu quero falar. Nas redes sociais vi muita gente criticando os manifestantes por usarem a máscara de Guy Fawkes, gente falando que usá-la era a mesma coisa que apoiar o presidente da comissão de direitos humanos e minorias do congresso nacional. Não é por aí.

Antes de mais nada: Guy Fawkes existiu mesmo, ele era um soldado inglês que no início do Século XVII participou de uma conspiração para assassinar o Rei Jaime I e os membros do parlamento, naquela que ficou conhecida como a Conspiração da Pólvora. O que aconteceu foi que Jaime I era protestante (ou anglicano, se não me engano) e a conspiração era formada por católicos, estes últimos haviam sido objeto de perseguição na Inglaterra, tendo inclusive seus direitos políticos cassados pelo monarca inglês.

Alegam que o que Fawkes queria era tirar um monarca protestante para colocar um déspota católico. Pode ser, mas isso seria reduzir todo um contexto histórico a um fato único, afinal, o que mais estava em jogo, além de tirar um governante que abertamente perseguia um seguimento da sociedade? Isso requer um estudo mais aprofundado e não é o que eu vou fazer. Essa introdução foi só para mostrar a importância histórica de Fawkes.


Eu vou tentar mostrar que as máscaras tem tudo a ver com os manifestos, para isso tenho que buscar uma minissérie de histórias em quadrinho lançada nos anos 1980, V for Vendetta (V de Vingança no Brasil), escrita por um dos maiores nomes do mercado editorial, Alan Moore, e desenhada brilhantemente por David Lloyd, primeiramente na Inglaterra (onde ficou inacabada) e depois nos EUA (onde seus autores finalizaram a série, que depois foi publicada no país de origem). Posteriormente, nos anos 2000 a história foi adaptada para o cinema, com Natalie Portman e Hugo Weaving nos papéis principais.


Em ambas as mídias a história relata um mundo totalitário, onde o governo monitora e manipula a população, sem nenhum escrúpulo, V é o único que se levanta contra a opressão, agindo solitariamente com ações que visam desmoralizar os órgãos governamentais. As ações são chamadas pela imprensa (colaboracionista) como terrorismo, sendo que a polícia vai tentando fechar o cerco contra V, o que faz as ações ganhar cores violentas, até o trágico fim.

Logo no começo da história, V salva uma garota que sofreria violência, Evey. Ele começa a mostrar-lhe os motivos pelo qual se levanta contra a ditadura, mostra o lado dos oprimidos, a corrupção daninha e toda a podridão institucional. Evey começa a enxergar a realidade que o Governo tenta esconder, tornando-se assim sua aprendiz.

Quando V morre, Evey fica curiosa e pensa em remover a máscara de Guy Fawkes, para revelar sua verdadeira face, mas começa a pensar em todas as ações, lições e palavras dele, e entende, não importa quem esteja atrás daquela máscara, o que importa é o que ela representa, a luta pela liberdade, pela verdade, pela moral.

E é isso que se deve entender, a máscara não representa a ideologia da Conspiração da Pólvora de 1605, ela representa, numa releitura atual a liberdade, a verdade e a moral, coisa que os políticos brasileiros parecem desconhecer.


E que o movimento continue forte.

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