sábado, 19 de novembro de 2011

Querem acabar com uma tradição

Não sou paulistano, não moro em São Paulo, mas tenho uma relação de amizade com a cidade, se é que se pode ter uma relação de amizade com uma cidade, ainda mais com uma cidade como São Paulo.

Gosto de andar na Avenida Paulista, na Rua Consolação e em outras por ali, ir às lojas escondidas de CDs, de Revistas, ver o corre-corre dos paulistanos, que parecem viver apressados, gosto de comer nas pizzarias, nas lanchonetes e restaurantes da grande metrópole nacional.

Mas recentemente uma notícia me entristeceu, um dos maiores símbolos da cidade vai mudar de lugar. Eu estou falando da São Silvestre, que sempre teve sua largada e sua “linha de chegada” na Avenida Paulista, neste ano vai ter seu percurso mudado.



Estou com a revista Runner’s World de novembro nas mãos e peço licença ao seu Diretor de Redação, Sérgio Xavier Filho, para reproduzir sua “Carta do Editor” aqui, esse pequeno editorial representa bem o sentimento de quem gosta da cidade, mesmo não morando nela, e gosta da tradicional corrida.

VIRADA SEM PAULISTA

Os americanos se emocionam com ‘New York, New York’ tocando na largada da Ponte Verrazano e com a chegada triunfal no Central Park. A Maratona de Berlim termina no Portão de Brandemburgo. Nós, brasileiros, não temos uma maratona forte, mas podemos encher o peito para falar da São Silvestre. É uma prova e tanto, tem tradição, o povo vai à rua para torcer por anônimos. Quem não está em São Paulo liga a televisão, enquanto o peru do dia 31 está no forno e torce pelo João, pelo José João, pelo Emerson, pelo Marílson da vez.

A São Silvestre é um patrimônio cultural. Simboliza a virada do ano e a conciliação do cidadão com sua cidade. A cidade dos carros se rende aos pedestres. O percurso da prova é um componente do simbolismo. Largada na Avenida Paulista, a avenida mais paulista da metrópole. Passeio pelo centro e pelo Minhocão, o monstrengo arquitetônico que desafoga o trânsito. Subida pela Brigadeiro Luís Antônio, virada na plana Avenida Paulista. Ali recebemos dos deuses da corrida um pulmão novo e a esperança. Cruzamos a linha de chegada com a certeza de que o ano seguinte será melhor.

A maior corrida brasileira quer ficar maior. A chegada coincide com os preparativos da festa do Réveillon na Paulista. Organizadores e poder público optaram pelo fácil: transferir a chegada para o Parque do Ibirapuera, palco de outras tantas provas. O fácil não é necessariamente o melhor. Em conversas com especialistas das mais diversas áreas, percebe-se que é possível conciliar chegada da São Silvestre com festa do Réveillon com algumas modificações na dispersão. Em um país que maltrata tanto suas tradições, seria um bom prenúncio para o futuro se conseguíssemos ao menos salvar essa. Quem já correu uma São Silvestre sabe como é emocionante vencer a Brigadeiro, Virar na Paulista e receber o incentivo de desconhecidos. Nesse momento, não há como não acreditar no país e em nós mesmos.

E A TRADIÇÃO?
Largar e chegar na mais paulista das avenidas é um charme da prova.


Sérgio Xavier Filho
Diretor de Redação.

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