quinta-feira, 11 de outubro de 2012

De missão de reconhecimento

“…

Ela olhou novamente para o seu localizador no pulso, não acreditando no que o visor mostrava usou os dedos para dar pequenas batidas, como se isso fizesse destravar o mecanismo e ele mostrasse que a leitura anterior estava errada, bateu de novo e mais uma vez, mas o aparelho teimava em informar que as coordenadas eram aquelas mesmas, que ela estava em seu destino.

Mas como? Aquele lugar não parecia nada com o que ela esperava. A cidade onde ela deveria se materializar era suntuosa, majestosa, com grandes prédios, ruas largas e muito movimentadas. Mas olhando ao redor, tudo o que ela via eram ruínas, árvores e mato crescendo por todos os lugares, paredes desgastadas pelo tempo e totalmente rachadas, quando não um amontoado de concreto no chão.

Devido ao movimento orbital, ela não conseguiria se comunicar com a nave por um período de seis horas, tempo que ela calculava para a nave contornar o planeta, ficando fora do alcance da comunicação, ela tinha que explorar então aquele mundo com cuidado, até poder comunicar os acontecimentos e pedir resgate ou receber novas ordens.

Ficar parada naquele ponto não era uma opção, isso a tornaria um alvo fácil para qualquer coisa que ainda estivesse à espreita por ali. A cidade parecia abandonada e à mercê do tempo, mas as aparências poderiam enganar. Mas, qual o melhor caminho a seguir? Por onde começar a explorar aquelas ruínas e tentar descobrir o que havia acontecido?

Uma coisa era fácil decidir, ela tinha que sair daquele espaço aberto, ali ela não poderia se esconder e sua roupa era colorida demais para não chamar a atenção. Ela precisava andar até alguma rua mais estreita, onde ainda houvesse alguns prédios ou paredes em pé, para ficar na sombra e tentar chamar menos atenção, se é que isso fosse possível, já que ela, aparentemente, era a única coisa viva e se mexendo naquele cemitério de concreto.

Cuidadosamente, pé ante pé, ela começou a caminhar, evitando pisar em pedras soltas ou qualquer coisa que pudesse fazer barulho ou machuca-la, uma torção de tornozelo, por mais leve que fosse, só iria piorar a situação e dificultar ela se defender de forma eficiente.

Ela tinha que ter cuidado também com os galhos das árvores e os cipós que se penduravam neles como se fossem cobras. Aquele lugar, que já fora muito amistoso, agora era uma armadilha potencialmente letal. Ela tinha que tomar cuidado, pois, além de não saber o que havia acontecido, ela estava apenas com uma arma de mão, com uma quantidade mínima de munição e luta corporal não era seu forte.

Olhando a posição das estrelas binárias que equivaliam ao nosso Sol, ela optou por seguir para o que seria o norte na Terra, mas ela não tinha certeza se realmente era. Andando devagar, ela encontrou uma esquina que dava para uma rua pequena, quase um beco, resolveu entrar por ali e ver se achava alguma resposta sobre o evento que praticamente destruíra aquele local.

Se estivesse na Terra, ela diria que ali estava uma Igreja ou um palacete antigo da Europa, gárgulas eram característicos dessas construções, mas ali, definitivamente ali ela não tinha ideia do que era aquele prédio. As paredes eram altas ali, parecia que estava num túnel, ainda mais porque mais a frente ela via um outro prédio com uma porta em forma de arco de um edifício que havia perdido as paredes, a claridade lá era maior, dando a impressão que era a abertura do túnel.

Enquanto ela andava devagar começou a ouvir um barulho, não dava para dizer de onde vinha, mas definitivamente era um barulho, ela olhou ao redor, procurando um lugar seguro para tentar se esconder. Achou uma reentrância, se espremeu ali, nervosamente procurou o cabo da arma, que ficou segurando junto ao corpo, olhando para todos os lados, tentando descobrir de onde vinha o barulho. A tensão começava a aumentar, gotas de suor começavam a se formar em sua testa, ela sentia a mão que segurava a arma tremer, sua respiração era rápida e curta.

De repente um barulho mais agudo surgiu de seu punho, era o comunicador da nave, eles já haviam contornado o planeta o suficiente para que o sinal de comunicação a alcançasse. Nervosamente e aos sussurros ela pediu resgate. Quando começaram a surgir sombras dos dois lados daquela ruela, finalmente a nave estava próxima o suficiente para tira-la de lá, e ela, num misto de alívio e tensão agradeceu sua sorte. Ela foi embora sem saber o que iria encontrar, mas faria o relatório da melhor forma possível.

…”

(Devaneios sobre uma foto feita por Daniel Dorci)

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