sexta-feira, 4 de maio de 2012

De encruzilhada linguística

Hoje eu li um pequeno texto escrito em português.

Na verdade em duas versões de português: aquele falado no Brasil e aquele falado em Portugal.

Isso mostra a curiosidade de como nossa língua fugiu de sua ancestralidade.

Houve faz pouco tempo um acordo entre os países que tem a língua portuguesa como oficial, na tentativa de diminuir esse abismo, mas hoje em dia parece que o caminho é sem volta, assim como o latim se diversificou, o português, principalmente no Brasil, parece ser uma língua totalmente diferente de sua original.

Seguem abaixo os dois textos.

Como curiosidade, tente ler e interpretar primeiramente o texto na forma lusitana, sem olhar a versão brasileira, descubra quantas palavras você não identifica e depois ao ver a versão tropical descubra as diferenças,

Versão de Portugal:

“Sou utente do elétrico e aguardava-o na paragem defronte minha morada, quando a carrinha de um talho parou e o condutor me disse:

_ Por favor, estou a procurar um negócio de peúgas, que sei haver nesta freguezia, mas não lhe conheço a direcção exacta.

Antes que eu pudesse dar tento ao assunto, um miúdo, que ainda havia pouco metera-se no rabo da bicha, aonde pusera-se a ler bandas desenhadas e mastigar pastilhas elásticas, adiantou-se e respondeu:

_ Sei onde fica. Há que tomar à direita na primeira sinaleira, seguir até o infantário e, para evitar um troço em obras, cruzar a praceta onde há uma pastelaria em restauração, seguir adiante até uma loja de camisolas de lã e de pronto-a-vestir, virar à esquerda no cruzamento no qual pintaram passadeira para peães; cruzar os carris dos comboios. Aí, entrar na rua em que se situa o parque de autocarros do Concelho, passar defronte ao restaurante de muros encarnados no qual se comem os melhores pregos e se toma a mais afamada bica da cidade; e então, depois de cortar caminho pela calçada dos engraxadores, chega-se a um edifício de betão, e, ali, ao rés-do-chão, encontra-se o negócio de engraçadas peúgas. Percebes?

_ Percebo, mas é fora de termo, pá – exclamou o talhante – Acaso não há outra loja de peúgas mais ao pé deste sítio?

_ Pois há – respondeu o miúdo – quarenta passos adiante nesta mesma beira de passeio.

_ Raios! Que me malbaratas o tempo! Porque não me indicaste logo esta?

_ ora, esta não é a do meu tio.

_ Tonto! Albadrão! Se estivéramos em uma retrete, meter-te-ia dentro da sânita e, gostosamente, carregaria o autoclismo!”

Versão do Brasil:

“Sou usuário do bonde e esperava-o no ponto defronte minha casa, quando a caminhonete de um açougue parou e o motorista me disse:

_ Por favor, estou procurando uma casa de meias masculinas que há neste bairro, mas não sei o endereço certo.

Eu ainda nem tinha me tocado e um menino, que havia pouco se enfiara no fim da fila, onde estava lendo histórias em quadrinhos e mascando clicletes, adiantou-se e respondeu:

_ Sei onde é. Tem que virar à direita no primeiro farol (sinal, sinaleiro, semáforo, conforme a região), seguir até a pré-escola e, para evitar um trecho em obras, cruzar a pracinha onde há uma confeitaria em reforma; seguir adiante até uma loja de pulôveres de lã e prêt-à-porter, virar à esquerda na esquina que tem faixa para pedestres; cruzar os trilhos do trem, aí, entrar na rua do estacionamento de ônibus da Prefeitura, passar na frente do restaurante de paredes vermelhas onde se comem os melhores sanduíches e se toma o mais afamado cafezinho da cidade, e então, depois de cortar caminho pela ruela dos engraxates, chega-se a um edifício de concreto e, ali, no térreo, encontra-se a loja de belas meias masculinas. Entendeu?

_ Entendi, mas é muito longe, pô! – exclamou o açougueiro – Por acaso não tem outra loja mais perto daqui?

_ Tem sim – respondeu o menino – quarenta passos adiante, nesta mesma calçada.

_ Raios! Você me fez perder tempo! Porque não me indicou logo esta?

_ É que esta não é a do meu tio.

_ Idiota! Malandro! Se estivéssemos em um banheiro eu enfiaria você na bacia (vaso, conforme a região) e, com gosto, daria a descarga.”


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