quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O facão



Ele estava absorto em pensamentos, totalmente distraído, parecia que o mundo estava em outro plano ou dimensão. Pensando agora, nem ele mesmo se lembra dos pensamentos daquele momento.

O fato é que era um dia ensolarado, quente para aquele inverno, algo pouco comum. Ele estava no coletivo, indo para o trabalho, totalmente desligado, quando o barulho metálico chamou-lhe a atenção. Ele saiu do transe, mas não entendeu o que era.

Foi somente na segunda vez que ouviu o barulho que ele compreendeu. Era um facão, daqueles usados por jardineiros para cortar uma ou outra planta maior, ou cortar algum tufo de mato que tenha se instalado em algum canto de jardim. Deveria ter uns 50 ou 60 cm, cabo preto, parecia normal.

Era a segunda vez que o homem, que estava em pé no corredor do coletivo, havia derrubado o facão. Esse homem não tinha uma fisionomia que chamasse a atenção, parecia ser daqueles cidadãos comuns, que devem ter uma vida chata, trabalhando de sol a sol, sem nada interessante fora do trabalho para fazer, ele estava trajando calça jeans e uma jaqueta jeans, algo curioso para aquele tempo que fazia. “Cada louco com sua mania.” pensou ele.

Em mais uma ou duas paradas obrigatórias ele desceria, portanto tratou de apanhar suas coisas, arruma-las e se preparar para descer, deixando de lado aquela imagem curiosa. Logo ele estava fora do ônibus, andando algumas quadras até o trabalho, o dia seria como qualquer outro, pelo menos ele achava assim.

Quando chegou em casa à noite, ele ligou a televisão, estava começando o noticiário local. O rosto do apresentador parecia assustado, mas não dava para entender o que era falado, ele pegou o controle remoto e aumentou o volume do som, foi então que ele compreendeu, foi ficando pálido, quase transparente, ele sentia que seu estômago dava voltas, suas pernas começaram a fraquejar, ele quase caiu no chão. O susto foi virando pânico, que virou terror. Ele reconheceu a face naquela fotografia 3x4, era ele, o homem do facão, a notícia era que ele havia surtado (não sabiam o motivo) havia ferido alguns passageiros daquele coletivo, antes que a Polícia chegasse e tentasse resgatar os reféns.

A situação se complicou, dois reféns ficaram feridos e o homem do facão foi morto, ninguém sabia o nome dele, não tinha documentos, nada, apenas aquele facão e na carteira aquela foto. Quem era e o motivo daquilo tudo, ninguém sabia.

Ele foi à cozinha, procurar um copo de água com açúcar para beber, tentar acalmar os nervos, afinal, ele praticamente nasceu de novo, por uma questão de minutos ele não foi refém naquele coletivo e, quem sabe, uma vítima desse mundo cão.


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