Ele estava absorto em pensamentos, totalmente distraído,
parecia que o mundo estava em outro plano ou dimensão. Pensando agora, nem ele
mesmo se lembra dos pensamentos daquele momento.
O fato é que era um dia ensolarado, quente para aquele
inverno, algo pouco comum. Ele estava no coletivo, indo para o trabalho,
totalmente desligado, quando o barulho metálico chamou-lhe a atenção. Ele saiu
do transe, mas não entendeu o que era.
Foi somente na segunda vez que ouviu o barulho que ele
compreendeu. Era um facão, daqueles usados por jardineiros para cortar uma ou
outra planta maior, ou cortar algum tufo de mato que tenha se instalado em
algum canto de jardim. Deveria ter uns 50 ou 60 cm, cabo preto, parecia normal.
Era a segunda vez que o homem, que estava em pé no corredor
do coletivo, havia derrubado o facão. Esse homem não tinha uma fisionomia que
chamasse a atenção, parecia ser daqueles cidadãos comuns, que devem ter uma
vida chata, trabalhando de sol a sol, sem nada interessante fora do trabalho
para fazer, ele estava trajando calça jeans e uma jaqueta jeans, algo curioso
para aquele tempo que fazia. “Cada louco com sua mania.” pensou ele.
Em mais uma ou duas paradas obrigatórias ele desceria,
portanto tratou de apanhar suas coisas, arruma-las e se preparar para descer,
deixando de lado aquela imagem curiosa. Logo ele estava fora do ônibus, andando
algumas quadras até o trabalho, o dia seria como qualquer outro, pelo menos ele
achava assim.
Quando chegou em casa à noite, ele ligou a televisão, estava
começando o noticiário local. O rosto do apresentador parecia assustado, mas
não dava para entender o que era falado, ele pegou o controle remoto e aumentou
o volume do som, foi então que ele compreendeu, foi ficando pálido, quase
transparente, ele sentia que seu estômago dava voltas, suas pernas começaram a
fraquejar, ele quase caiu no chão. O susto foi virando pânico, que virou terror.
Ele reconheceu a face naquela fotografia 3x4, era ele, o homem do facão, a
notícia era que ele havia surtado (não sabiam o motivo) havia ferido alguns
passageiros daquele coletivo, antes que a Polícia chegasse e tentasse resgatar
os reféns.
A situação se complicou, dois reféns ficaram feridos e o
homem do facão foi morto, ninguém sabia o nome dele, não tinha documentos,
nada, apenas aquele facão e na carteira aquela foto. Quem era e o motivo
daquilo tudo, ninguém sabia.
Ele foi à cozinha, procurar um copo de água com açúcar para
beber, tentar acalmar os nervos, afinal, ele praticamente nasceu de novo, por
uma questão de minutos ele não foi refém naquele coletivo e, quem sabe, uma
vítima desse mundo cão.
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