domingo, 27 de outubro de 2013

Woodstock, os mitos e a história

Como a cultura pop une fatos e mitos, tornando tudo uma coisa única e verdadeira. Assim é o Festival de Música e Arte de Woodstock, um dos maiores (senão o maior) marcos culturais do século XX.

A verdade é que foi um grande festival, o maior realizado, com a presença de grandes nomes da música pop dos EUA e da Inglaterra. Nomes como Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Who marcaram presença e se apresentaram ao lado dos então desconhecidos Santana, Quill e a The Incredible String Band. Destes últimos, apenas a banda Santana (depois o fantástico guitarrista em carreira solo) decolou, em parte pela apresentação no palco do festival.

Sim, todos sabem que a multidão que compareceu ao festival superou em muito os números esperados, esse foi só o primeiro dos percalços que o festival enfrentou, também a ocorrência das chuvas (verdadeiras tempestades) de verão ajudaram a tumultuar o desenrolar do festival. Essas chuvas causaram problemas com o equipamento e isso prejudicou a apresentação de muitas das atrações.

Os números foram superlativos, fala-se que foi em torno de 500 mil pessoas, esse foi outro entrave, já que toda a logística foi calculada para no máximo a décima parte dessa população, com isso, a alimentação foi pouca, os banheiros químicos não atenderam às necessidades, enfim, tudo ficou aquém do esperado.

Mas os lados positivos foram: a convivência pacífica nos três dias (não houve uma briga sequer na plateia), a cooperação comunal (todos dividindo o pouco que possuíam) e a própria música. Se bem que muitos artistas ficaram desgostosos com suas próprias apresentações (por causa da já citada chuva que afetou os equipamentos).

Todas essa histórias, acompanhadas de depoimentos de quem esteve lá (produtores, músicos e pessoas da plateia) detalham mais a saga do festival que mudou o mundo, no livro de Pete Fornatale, um rico trabalho de pesquisa e entrevistas que revisita o festival 40 anos depois, jogando novas luzes sobre a lama e a fumaça dos psicotrópicos ali consumidos.


Uma leitura interessante e atrativa para quem, como eu, gosta de música e tem curiosidade sobre os bastidores de grandes eventos.


terça-feira, 22 de outubro de 2013

Uma propaganda de 1969

Hoje eu comecei a ler Woodstock, livro de Pete Formatale que trás uma nova visão do festival, quarenta anos após sua realização.

Logo no começo, ainda na introdução, achei interessante o texto de propaganda que foi divulgado na rádio WNEW FM de Nova York, que já naquela época tinha sua temática toda voltada para o Rock. Motivo pelo qual resolvi reproduzi-lo aqui. Note não só a forma direta de elencar as atrações e os valores dos ingressos (que acabariam não sendo exigidos na entrada por que o público invadiu a área), mas os nomes de peso do Rock, Blues e Folk que estiveram presentes nesses três dias de Paz, Amor e Música.

“A Feira de Arte e Música de Woodstock é uma exposição aquariana em White Lake, na cidade de Bethel, Condado de Sullivan, Nova York. Na sexta-feira, 15 de agosto, vocês verão e ouvirão Joan Baez, Arlo Guthrie, Tim Hardin, Richie Havens, The Incredible String Band, Ravi Shankar e Sweetwater.

No sábado, 16 de agosto, tocam Canned Heat, Creedence Clearwater, Grateful Dead, Keef Hartley, Janis Joplin, Jefferson Airplane, Mountain, Santana e The Who – o grupo mais quente da cena atual.

No domingo, 17 de agosto, The Band, Jeff Beck, Blood, Sweet and Tears, Iron Butterfly, Joe Cocker, Crosby, Stills and Nash, Jimi Hendrix, The Moody Blues, Johnny Winter, e isso não é tudo. Ingressos à venda pelo correio ou na sua agência local de venda de ingressos a 7 dólares para qualquer dia, dois dias a 14 dólares, e 18 dólares para os três dias. Um passe especial de dois dias está disponível pelo correio a 13 dólares.

Para ingressos e informações, escreva para a Feira de Arte e Música de Woodstock, caixa postal 996, Radio City Station, Nova York, um-zero-zero-um-nove ou ligue para Murray Hill 7-0700. M-U-sete-zero-sete-zero-zero. Lembre-se: a Feira de Arte e Música de Woodstock será realizada em White Lake, na cidade de Bethel, Condado de Sullivan, Nova York.

Eles tiveram alguns problemas, mas parece que tudo vai ficar bem.”

Esse último parágrafo foi de improviso, já que os organizadores do festival tiveram diversos problemas de logística e organização, problemas estes que não impediram a realização e o sucesso daquele que seria o festival que mudou o Mundo.


domingo, 20 de outubro de 2013

Conflitos e Segredos

Anjos, demônios, seres fantásticos. A nova viagem ao universo criado por Eduardo Spohr nos mostra mais desses personagens fantásticos.
 
 
Desta vez a narrativa acompanha duas frentes, uma conta a história do anjo renegado Denyel, que desempenha uma função como Anjo da Morte, ao acompanhar in loco os conflitos que a raça humana deflagrou durante o Século XX, enquanto na segunda linha acompanhamos um coro tentando descobrir a localização de uma segunda cidade atlante que tenha sobrevivido ao dilúvio (a primeira nos foi apresentada em Herdeiros de Atlântida).
 
Num trabalho de pesquisa primoroso, Spohr faz uma ambientação fiel dos campos da II Guerra Mundial, no desembarque da Normandia (Dia D), nas Ardenas, acompanhados de elementos de seu universo, anjos que lutam ombro a ombro com humanos, ofanins que vem resgatar os mortos e novos elementos fantásticos, feras incansáveis e insaciáveis que podem matar até mesmo os seres angélicos.
 
Posteriormente acompanhamos o anjo exilado na Califórnia, num autêntico trabalho que lembra ações dos mafiosos de Don Corleone, para depois ele ser jogado nas selvas tropicais da Ásia, mais precisamente no Vietnam dias antes da Ofensiva do Teth, outra pesquisa de ambientação bem realizada. A forma como as supostas pesquisas em parapsicologia que a KGB realizou durante a Guerra Fria é bem encaixada na trama, assim como ruínas históricas da região e a tensão das potências atômicas que andavam sobre um fio para evitar um conflito nuclear.
 
Finalmente vemos conflitos menos conhecidos dos livros de história, acontecidos em países africanos que se libertaram do jugo colonialista europeu e no Líbano, onde uma guerra civil praticamente destruiu o país. Em todos esses cenários Denyel esteve presente, como combatente ou para desempenhar ações pontuais e cirúrgicas, que foram as peças de um quebra-cabeças que, depois de montado, nos desvenda parte da personalidade do exilado, os motivos de seu cinismo e sarcasmo, o desdém aparente por sua própria vida, enfim, segredos que ele sempre guardou a sete chaves para sua própria segurança.
 
Paralelamente a isso, Kaira e seu coro, composto pelos anjos Urakim e Ismael, seguem nos dias atuais atrás de pistas que os levem até Egnias, a cidade atlante que teria sobrevivido ao Diluvio. Eles seguem às cegas atrás de pistas que os levam a atravessar o globo terrestre, passando por lugares mundanos e paisagens quase que lunares, para terminar em uma luta de vida e morte, enfrentando adversários sobre-humanos.
 
Um atrativo maior à trama é o fato de Spohr pontear toda a trajetória do exilado por músicas populares que faziam sucesso na época em que os fatos se desenrolam, um pequeno detalhe que acaba conferindo mais sabor ao texto, que vale muito ser lido.
 
 

domingo, 13 de outubro de 2013

Soldados perdidos

Hoje em dia usamos a comunicação para tudo, telefones e computadores para nos comunicarmos com pessoas à distância, televisão e outros meios de notícias, tudo corre à velocidade da luz.

Agora imagine se você perde todo e qualquer contato com o resto da humanidade, fica sem saber as menores informações da sociedade e do Mundo, como você reagiria? Continuaria a desempenhar seu cotidiano ou mudaria todos seus hábitos?

Bom, para um número de soldados do exército do imperador, que lutaram no teatro do Pacífico, na II Guerra Mundial, a resposta foi simples, eles mantiveram seu cotidiano e suas ordens, que era lutar contra os aliados.

Não, isso não é brincadeira, vários soldados ficaram isolados em ilhas, perdidos de seus batalhões, mas mesmo assim continuaram a patrulhar o perímetro de seus acampamentos, a colocar armadilhas para capturar ou matar seus inimigos e, principalmente, a sobreviver, mesmo sem o apoio de seus colegas e superiores.

Há a narrativa de vários soldados que foram achados sozinhos em ilhas da Polinésia e das Filipinas, esperando a volta de novos pelotões para lhes render e substituir, que pensavam que a II Guerra Mundial continuava, muito tempo depois da assinatura da rendição pelo governo nipônico.

Essa disciplina oriental foi um dos fatores que transformaram os japoneses em terríveis adversários para os EUA após o ataque a Pearl Harbor e que gerou batalhas sangrentas em diversas ilhas, como Guadalcanal e Iwo Jima. Também foi devido a essa determinação que surgiram os kamikazes, pilotos que arremetiam contra embarcações aliadas com o intuito de as afundarem, mesmo que lhes custasse a própria vida.

Mas voltando aos soldados perdidos, muitos foram achados ao longo das décadas de 1940 (após 1945) e 1960, sendo que um resistiu escondido até o início dos anos 1970, aceitando o final da guerra quando um superior seu aceitou sair da aposentadoria e lhe falar sobre o fim da guerra e a paz assinada pelo Império Nipônico.

São histórias de determinação, disciplina, mas de total precariedade nas comunicações que o Japão apresentava no final do conflito, quando seu esforço já estava mais para defender seu território do que para invadir e dominar os países da região.


sábado, 5 de outubro de 2013

Fotos e histórias

Eu gosto de ver uma imagem e pensar numa história, há vários pequenos contos inacabados no blog que são feitos assim, eu escolho a imagem, olho, procuro detalhes e começo a imaginar personagens, situações (quase sempre de suspense, não sei, acho que sou meio doente com relação a isso) e vou desenvolvendo a trama, até que chega ao fim da imagem.
 
São cenários de florestas, praias, cidades e, até, ilustrações de ficção, você transforma tudo, uma imagem bucólica ganha ação, conforme sua imaginação, isso é muito legal.
 
Mas existem imagens que são estáticas, por mais que você use toda sua imaginação, não dá para mudar o que ela diz. Normalmente são fotografias marcantes, que contam tudo por si só. Elas não te dão margens de divagações, devaneios e viagens imaginativas, mas nem por isso são inexpressivas, pelo contrário.
 
Essa abaixo é um exemplo tocante, mostra um garoto austríaco que acabou de ganhar um par de sapatos novos durante a II Guerra Mundial, a imagem é forte, cheia de sentimentos e emoções, por mais que você se esforce você não conseguirá mudá-la, ela está fechada, é aquilo, mas nem por isso é enfadonha. Essa é toda a beleza que ela transmite.