Anjos, demônios, seres fantásticos. A nova viagem ao
universo criado por Eduardo Spohr nos mostra mais desses personagens
fantásticos.
Desta vez a narrativa acompanha duas frentes, uma conta a
história do anjo renegado Denyel, que desempenha uma função como Anjo da Morte,
ao acompanhar in loco os conflitos que a raça humana deflagrou durante o Século
XX, enquanto na segunda linha acompanhamos um coro tentando descobrir a
localização de uma segunda cidade atlante que tenha sobrevivido ao dilúvio (a
primeira nos foi apresentada em Herdeiros de Atlântida).
Num trabalho de pesquisa primoroso, Spohr faz uma
ambientação fiel dos campos da II Guerra Mundial, no desembarque da Normandia
(Dia D), nas Ardenas, acompanhados de elementos de seu universo, anjos que
lutam ombro a ombro com humanos, ofanins que vem resgatar os mortos e novos
elementos fantásticos, feras incansáveis e insaciáveis que podem matar até
mesmo os seres angélicos.
Posteriormente acompanhamos o anjo exilado na Califórnia,
num autêntico trabalho que lembra ações dos mafiosos de Don Corleone, para
depois ele ser jogado nas selvas tropicais da Ásia, mais precisamente no Vietnam
dias antes da Ofensiva do Teth, outra pesquisa de ambientação bem realizada. A
forma como as supostas pesquisas em parapsicologia que a KGB realizou durante a
Guerra Fria é bem encaixada na trama, assim como ruínas históricas da região e
a tensão das potências atômicas que andavam sobre um fio para evitar um
conflito nuclear.
Finalmente vemos conflitos menos conhecidos dos livros de
história, acontecidos em países africanos que se libertaram do jugo
colonialista europeu e no Líbano, onde uma guerra civil praticamente destruiu o
país. Em todos esses cenários Denyel esteve presente, como combatente ou para
desempenhar ações pontuais e cirúrgicas, que foram as peças de um
quebra-cabeças que, depois de montado, nos desvenda parte da personalidade do
exilado, os motivos de seu cinismo e sarcasmo, o desdém aparente por sua
própria vida, enfim, segredos que ele sempre guardou a sete chaves para sua
própria segurança.
Paralelamente a isso, Kaira e seu coro, composto pelos anjos
Urakim e Ismael, seguem nos dias atuais atrás de pistas que os levem até Egnias,
a cidade atlante que teria sobrevivido ao Diluvio. Eles seguem às cegas atrás
de pistas que os levam a atravessar o globo terrestre, passando por lugares mundanos
e paisagens quase que lunares, para terminar em uma luta de vida e morte,
enfrentando adversários sobre-humanos.
Um atrativo maior à trama é o fato de Spohr pontear toda a
trajetória do exilado por músicas populares que faziam sucesso na época em que
os fatos se desenrolam, um pequeno detalhe que acaba conferindo mais sabor ao
texto, que vale muito ser lido.
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