Quando Marx, ainda no Século XIX, começou a difundir suas ideias sobre a diferença de classes sociais, suas relações e a ambição da igualdade entre estas, criando as bases do socialismo (que depois, com Engels, foi aprimorado), houve um mal estar entre os países da Europa Ocidental (a maioria ainda tinha como forma de governo a Monarquia).
Já no começo do Século XX, a Rússia acabou sendo palco de uma revolução que levou o proletariado ao poder, criando-se assim a primeira república socialista da história, que novamente gerou desconfiança entre os demais países europeus, bem como o apoio destes aos dissidentes que tentaram derrubar o governo revolucionário que tinha Lênin e, depois, Stalin à frente. Os rumos dessa república, a história nos conta e eu não vou entrar em detalhes aqui.
Já na década de 1930, na Espanha, uma guerra civil colocou em lados opostos as forças fascistas de Franco e as forças nacionalistas, que era uma colcha de retalhos, tendo de capitalistas liberais até comunistas ortodoxos. Assim como os alemães e italianos apoiaram as forças franquistas, pessoas de diversas nacionalidades e por diversos motivos se uniram aos nacionalistas nas Brigadas Internacionais.
Todo esse preâmbulo foi colocado para explicar que George Orwell, inglês, e sua esposa integraram as Brigadas Internacionais na região da Catalunha, sob o comando de comunistas. Lá eles presenciaram toda a atrocidade da guerra, fossem elas perpetradas pelos adversários, fossem pelos seus superiores. Quando retornou à Inglaterra, Orwell passou um tempo no interior, para se recuperar dos males causados pelo espectro da guerra, foi nessa época que ele começou a planejar um livro onde contaria sua visão do socialismo, para desmistificar o governo de Stalin e exorcizar alguns acontecimentos que presenciou em Barcelona.
Ele não queria uma história demonizando o regime, mas apenas mostrar que apesar de toda a base teórica, a prática acabava sofrendo desvios e, mesmo se proclamando iguais, havia opressores e oprimidos. Durante suas caminhadas pelas estradas rurais inglesas, Orwell começou a observar os animais e como eram tratados (numa época em que direitos dos animais não eram nem mesmo um embrião) e teve a ideia de fazer os bichos ganharem voz e personalidade, fomentando eles uma rebelião onde tomariam uma propriedade rural e implantariam uma forma alternativa de governo.
Por muitos motivos a obra só foi terminada após o fim da II Guerra Mundial, ela mostrava que diversos animais (uma alegoria para as diversas classes sociais) haviam se unido e expulsado os humanos de uma granja, tomando o poder local. Logo eles se organizam, criam uma espécie de constituição (os sete mandamentos do animalismo), adotam um hino e começam a trabalhar para melhorar a vida de todos ali. A história vai passando e diversas analogias com o governo stalinista vão se descortinando, ações como exílio, perseguição e expurgo de rivais, alteração da história, culto à pessoa do líder, mas num determinado momento os paralelos deixam de existir, levando tudo a um encerramento insólito, quando uma determinada raça de animais acaba se humanizando, ficando ela bastante parecida com aqueles que eram considerados o grande inimigo dos animais.
Quando foi lançada, A Revolução dos Bichos causou um grande desconforto aos governos vencedores da II Grande Guerra, pois a, já chamada, União Soviética fora uma aliada importantíssima contra as forças do Eixo e as analogias acabavam ridicularizando seus líderes, posteriormente, com a guerra fria, o mesmo livro acaba sendo usado como arma ideológica pelos EUA e seus aliados, sendo que até hoje, em alguns países como China e Coreia do Norte, a publicação é proscrita.
É uma leitura envolvente, sabendo-se guardar os exageros e as discrepâncias, de uma visão particular de um determinado período da história mundial.