Acho que já contei a minha saga ao escolher um time de futebol para torcer, mas não tenho certeza se o fiz aqui no blog, se foi eu fiz isso na versão passada, que foi apagada, mas não tenho certeza.
É curioso, mas eu me tornei alvinegro por dois motivos, o primeiro foi uma derrota de outro time, o Atlético-MG, na final do brasileiro de 1977 (aliás, quem defende mata-mata, esse é outro exemplo de como esse tipo de disputa é injusta), o segundo motivo foi uma geração de grandes jogadores que surgiram no mesmo time no ano seguinte, 1978.
Como assim, você se tornou santista por causa de uma derrota do Atlético-MG?
Sim, eu era bem criança, estava começando a conhecer o futebol e no campeonato brasileiro daquele ano, o Atlético-MG tinha um grande time, com Reinaldo, Cerezo, entre tantos outros, o time mineiro chegou à final contra o São Paulo, que jogava para o gasto, colhendo resultados sem praticar um futebol bonito.
A decisão seria em jogo único, como os invictos mineiros tinham a melhor campanha, o jogo seria em Belo Horizonte, no Mineirão, mas essa era sua única vantagem, pois um resultado de empate levaria o jogo para a prorrogação e, se mantendo o empate, pênaltis.
Eu sei que, abusando de faltas, o São Paulo acabou levando o jogo para os pênaltis, onde foi campeão, isso me frustrou, me fazendo a torcer contra o tricolor paulista em qualquer competição que fosse.
Não sei por que, talvez pela derrota, mas acabei não torcendo pelo Galo das Alterosas, continuei procurando um time com que me identificasse para torcer.
Isso aconteceu no ano seguinte, no campeonato paulista.
Por problemas financeiros, o Santos que não podia montar um elenco com jogadores experientes para disputar o campeonato, chamou uma solução caseira para assumir o comando técnico, Francisco “Chico” Formiga.
Ciente da situação financeira do clube, Formiga aceitou a missão de lançar os “pratas da casa” nos profissionais, subindo diversos jogadores ao longo do campeonato, entre eles o ataque arrasador composto por Nilton Batata, Juary, Pita e João Paulo.
O campeonato seria longo, devido à Copa do Mundo da Argentina e outros motivos administrativos.
Chegaram ao turno final 10 equipes, Santos, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Francana, Guarani, Ponte Preta, Portuguesa de Desportos, Juventus e Botafogo-SP.
Em sistema eliminatório, os finalistas foram Santos e São Paulo, de novo o time que eu torcia contra, o time que eu não gostava.
O Santos, com ataque insinuante, veloz, tinha melhor campanha e jogava com uma vantagem, seria uma disputa melhor de quatro pontos (na época a vitória valia dois pontos), disputada em até três partidas, no caso de as equipes permanecerem empatadas em pontos ao final do terceiro jogo, este iria para a prorrogação e o resultado de empate na prorrogação daria o título ao time de melhor campanha no campeonato (o Santos).
Com idade de oito para nove anos, vou ser sincero, lembro-me vagamente dos jogos, aliás, lembro-me mais de imagens que as televisões mostram hoje em dia do que na época mesmo.
Mas a história conta que o Santos ganhou o primeiro jogo, ampliando a vantagem, o segundo jogo ficou no empate, obrigando a realização do terceiro e decisivo jogo.
Neste jogo acredito que o tricolor tenha jogado com a faca nos dentes, pois nos noventa minutos acabou ganhando o jogo, obrigando mais trinta minutos de agonia para definir o campeão.
De um lado, os experientes, faltosos e tarimbados são paulinos, do outro, os jovens, rápidos e incipientes santistas, que tinham que segurar o empate para levantar a taça.
O alvinegro estava desfalcado, não jogaram a finalíssima Ailton Lyra, o mais experiente meia do time, e João Paulo, veloz e endiabrado ponta esquerda que tem vasta história no time de Vila Belmiro.
O empate ao final da prorrogação foi um prêmio ao time, que arriscou tudo ao lançar jogadores da base entre os profissionais.
Não me lembro de nada do jogo, mas são frescas na minha memória eu comemorando, em frente à televisão, o título dos “meninos da Vila”.
Novamente não sei o motivo, talvez a vitória, talvez a identificação com um time de garotos, talvez o encantamento com o futebol alegre, rápido e objetivo do time, talvez predestinação, mas eu abracei as cores alvinegras naquele dia.
Penei com o período de seca de títulos do time, com jogadores de qualidade duvidosa que vestiram o manto, mas aprendi a valorizar o futebol arte, o futebol moleque, o futebol paixão, onde um drible tem tanto ou mais valor que um gol, onde uma pedalada se torna imortal, onde o time e a torcida vivem em comunhão.
Essa memória terna eu trago comigo desde aquele time dos primeiros Meninos da Vila.
Time que jogou a grande final do campeonato paulista de 1978.
Em pé: Gilberto Sorriso, Flávio, Zé Carlos, Antonio Carlos, Neto e Nelson.
Agachados: Nilton Batata, Toninho Vieira, Juary, Pita e Claudinho.
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