Ninguém mais se lembra daquele verão, nem mesmo eles (que se esforçaram para esquecer aqueles acontecimentos).
A ideia tinha um charme, um algo de aventura, de exploradores, e isso havia seduzido a todos.
Afinal, o bosque ficava próximo, a caminhada até ali duraria poucos minutos, depois, juntar galhos e folhas, fazer a fogueira, esperar a noite cair, tudo era simples.
E lá foram eles, todos confiantes, alegres, se a caminhada não tirasse o fôlego, eles cantariam como bardos antigos. Pararam na proximidade das árvores e se perguntaram onde fariam o acampamento.
Um argumentou que eles tinham que entrar um pouco no bosque, senão não haveria graça e eles seriam motivo de troça no dia seguinte, os outros concordaram.
Triste erro. Parecia que o local era mágico, a cada passo que davam, a cada metro que entravam naquela mata, tudo parecia mudar e ficar escuro, as árvores pareciam se adensar e se fechar sobre eles.
Após alguns minutos de caminhada, que pareceram horas, a impressão que dava era que eles estavam longe de qualquer lugar civilizado.
O relógio ainda marcava três horas da tarde, mas o céu mostrava a imagem da meia-noite, numa escuridão total. Eles procuravam andar juntos, mas já não sabiam como voltar, não haviam marcado as árvores, nem mesmo deixado rastros fáceis de serem seguidos de volta.
Aos poucos começaram a ver uma claridade, parecia que vinha de algum lugar a sua frente, torciam que fosse uma saída.
Apressaram o passo, quase sentindo a felicidade voltar aos seus corações.
Mas logo a sensação foi mudando para um temor, eles começaram a ver que a claridade bruxuleava, como se fosse uma fogueira e passaram a ouvir uma cantiga fraca, ao longe, quase um lamurio.
Andaram mais um pouco, já sem confiança nos próprios passos, até que viram um tronco sem galhos, e mais a frente deste tronco parecia vir a claridade. O som da ladainha aumentava a cada passo dado, o ritmo parecia enfeitiça-los, impedindo-os que virassem e saíssem correndo.
Eles mal conseguiam se olhar, sabiam que suas faces mostrariam o medo insano que lhes transbordava o coração, mas ainda assim se recusavam a abandonar o caminho.
Cada passo que davam o coração aumentava sua batida. Tum. Tum. Tum.
Chegaram até o tronco, que parecia ter apodrecido de repente.
Eles se olharam, finalmente, e tentaram murmurar algo, para decidir o que fazer. Iriam em frente ou sairiam correndo? Que encruzilhada estavam.
Eles não ousavam respirar mais forte, tamanho o medo que estavam, seus olhos pareciam ter perdido todo o brilho da vida.
Então, num acordo mudo, ao sinal de um deles (ninguém mais se lembra quem sinalizara), eles saíram em desabalada corrida voltando por onde haviam vindo e só pararam quando chegaram em casa, brancos como cera, sem fôlego, tremendo.
Nunca souberam o que havia naquele bosque, não conseguiram olhar além daquele tronco, não tinham certeza de nada, apenas que tiveram pesadelo o resto daquele verão.
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