Texto retirado do blog Cem Homens, de Letícia Fernández, trazendo uma denúncia muito séria e que, para variar, é ignorada por autoridades brasileiras, que fazem vistas grossas.
Hoje, novamente uma pessoa foi vítima dessa prática, que inexplicavelmente, apesar de proibida, ainda é muito realizada, mas o texto esclarece melhor que eu.
VOO DUPLO É PROIBIDO!
Hoje não vai ter live porque estou devastada. Completamente arrasada. Uma moça morreu num acidente de parapente no Rio de Janeiro. (leia aqui e aqui)
Sempre mando e-mails para meus amigos quando acontece algo do tipo. Resgatei um aqui de 2008, e compartilho com vocês. Gostaria de atualizar a informação de que meus pais já ganharam em SEGUNDA INSTÂNCIA também.
Texto enviado aos meus amigos no dia 11 de dezembro de 2008.
Ontem aconteceu mais um “acidente” de asa-delta no Rio de Janeiro. Ironicamente, numa quarta-feira, tal qual aquele 12 de novembro 2003, quando minha irmã, a médica Ana Rosa Lapa dos Santos, faleceu em um acidente muito parecido. Na ocasião, também morreu o piloto da asa, Edvaldo da Silva, conhecido como “Valtinho”.
O que muita gente não sabe é que o vôo duplo com fins comerciais é proibido pela legislação aeronáutica brasileira. Vôos duplos são permitidos, sim, mas apenas como processo de instrução. Em tese, os passageiros são alunos de cursos de pilotagem.
Os pilotos, associações e clubes burlam a legislação (isto é, contrariam a lei!), ao fingir que os vôos turísticos são instrucionais. Por esta razão é que sempre se referem ao piloto como “instrutor”. Convenhamos: ele não está ensinando nada. É um passeio recreativo, turístico, e extremamente vantajoso.
O Sr. Roberto Menescal, presidente da Associação Brasileira de Vôo-Livre (ABVL) à época do acidente da minha irmã, afirmou EM JUÍZO que todos os passageiros de vôo duplo são pessoas interessadas em pilotar uma asa-delta.
Qualquer morador do Rio de Janeiro sabe quão falsa é esta afirmação.
Há alguns anos um vôo duplo custava a bagatela de 200 reais. Façamos as contas: se um piloto fizesse um único vôo ao dia, de segunda a sexta, ele ganharia 1.000 reais por semana, ou 4.000 reais mensais. Sem incidência de qualquer imposto de renda, INSS, PIS, Cofins, ou coisa que o valha. Quatro mil. Limpos. Lembro que um vôo dura cerca de 15 minutos e ainda tem mais o tempo de subir até a pedra, montar a asa e depois desmontá-la. Digamos que eles levem 1 hora pra fazer isso tudo. Está de bom tamanho, não está?
Desconheço os valores que são praticados atualmente, mas desconfiava que as normas de segurança não estavam sendo seguidas. O acidente de ontem só me deu a certeza de que tudo continua como dantes no quartel de Abrantes, o que é muito triste e frustrante. Afinal, a morte de duas pessoas (só uma me dói – imensamente, aliás – mas não podemos esquecer do piloto) foi absolutamente em vão.
A ANAC continua fazendo vista grossa, a prefeitura do Rio finge que não é com ela, as agências de turismo continuam vendendo o “passeio” e os pilotos e associações continuam enchendo os bolsos de dinheiro. Enquanto isso, neste exato momento há pelo menos uma família com um parente internado na UTI (as informações são vagas e desencontradas; uns dizem que o piloto é que se machucou muito, outros dizem que foi o turista canadense).
Por favor notem que não há seguro indenizatório para caso de acidentes; que o passageiro NÃO é equipado com pára-quedas; e que a atividade não é regulamentada justamente por ser ILEGAL. E ainda acontece em área federal (isto é: minha, sua, nossa!): a área da rampa pertence ao IBAMA.
Não ficamos de braços cruzados e entramos com ação judicial indenizatória. A sentença da primeira instância nos foi favorável, estabelecendo reparação pecuniária. O processo continua transitando. Nada nos trará a Ana de volta, mas serve de alerta para que novos acidentes sejam evitados.
É muito doloroso remexer nestes fatos, especialmente por sabermos que nada mudou. Mas é nosso dever, enquanto cidadãos, tentar mudar a história do nosso país. É o que estamos (eu e minha família) fazendo.
O turista canadense é o ator Michel Cardin, que havia casado poucos dias antes com uma brasileira, a Carol. Ele está em estado vegetativo até hoje. Alguns meses mais tarde outra moça teve um “acidente” parecido, a Diandria. Felizmente Diandria sobreviveu, mas o piloto que estava com ela, conhecido como Parafina, morreu.
Michel Cardin
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