Ontem cedo fui fazer uma coisa que é meio raro para mim, comprar roupas, eu passo mais de ano sem entrar numa loja de roupas, a menos que seja um caso excepcional, para comprar um presente ou algo em específico.
Mas não vou contar a minha aventura de escolher roupas, isso é ridículo, eu sei, haha.
Como sempre, eu acordo cedo, fui ao centro da cidade cedo ser o primeiro freguês numa loja.
Enquanto estava no espaço reservado para provar as roupas, ouvia a programação da rádio local (oh trem de péssima qualidade), de repente começou uma ladainha numa língua que eu não reconheci.
Quando saí olhei no balcão do caixa, lá estava o proprietário da loja, grudado no computador, nem ligando para o (péssimo) som ambiente, vendo um site ou programa no monitor.
Terminada a compra, perguntei-lhe se o que ele acompanhava no computador era alguma oração, o que ele confirmou.
Conversando mais, descobri que eram orações islâmicas.
Aqui a comunidade “árabe” é grande, na verdade muitos imigrantes e filhos de diversas nações do Oriente Médio fixaram residência em Campo Grande, o termo árabe é negado por eles, afinal a maioria não é originária da Arábia Saudita, mas de outros países.
Isso acabou enriquecendo a cultura local, que é uma mistura muito grande.
Acredito que a principal contribuição está na culinária, com seus temperos, comidas e modos de preparar, seja o Quibe, a Esfiha, o Tabule, os pratos a base de carne de cordeiro, só de pensar dá uma fome.
O comércio local também tem muitas “lujinhas” cheias de quinquilharias, precursoras das lojas de R$1,99 que surgiram no final dos anos 1990, local onde você encontra “negócios da Arábia”, às vezes uma negociação, uma pechincha e você compra o produto com algum desconto, aliás, a pechincha é arte deles.
Mas conversando com o dono da loja, falei que infelizmente a gente tem uma imagem negativa do Islã por causa das matérias de mídia e dos radicais, o que ele concordou.
Também falou que, ao contrário do que nós brasileiros imaginamos, as imagens que passam do Brasil lá fora não são tão lisonjeiras, já que elas se restringem muito ao Carnaval e aos problemas policiais que vemos, principalmente nas favelas, dando a impressão de uma eterna guerra civil, só interrompida para os folguedos de Momo.
Falei que não havia reconhecido a língua, por isso havia perguntado se eram orações islâmicas, é totalmente diferente de tudo o que eu já havia ouvido, assim como acho que se ouvisse uma missa em latim também estranharia, ele falou que apesar da tradição de se rezar em árabe, já existiam locais onde o culto do Islã já estava sendo feito na língua local, em espanhol, inglês.
Quem acaba convivendo com esses imigrantes e seus descendentes, vê o quanto são diferentes da imagem passada nas reportagens, um povo tranquilo, de fala calma, educado, simpático, tradicionalista (talvez até um pouco exagerado, mas quem sou eu para julgar) e muito alegre.
Mas principalmente, eu gosto de sua tradição culinária.
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