A Cultura Brasileira tem muitas histórias curiosas, mas um capítulo é riquíssimo em episódios.
Os festivais, seja o internacional da canção, seja o festival da Record (nos anos 1960), os da Globo (nos anos 1980), quase sempre não coincidiam os gostos do público com os dos jurados.
Músicas vencedoras já foram sonoramente vaiadas, músicas foram trocadas em cima da hora e seu interprete desclassificado, teve de tudo.
Um fato aconteceu em 1968, no III Festival Internacional da Canção (FIC).
Temos que lembrar que nessa época a Ditadura Militar estava atingindo o auge da repressão, do terror e do autoritarismo, e que uma das formas de se protestar era através da música.
Muitos jovens defendiam um nacionalismo exagerado, beirando a xenofobia, não aceitando os “estrangeirismos” na música.
Nesse clima tenso, subiram ao palco, para interpretar “É Proibido Proibir” Caetano Veloso e os Mutantes, portando guitarras elétricas e unindo a MBP com o Rock and Roll, o resultado foi uma vaia que impedia a apresentação.
Revoltado com a situação, Caetano discursou:
“Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês tem coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado. São a mesma juventude que vão sempre, sempre matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem. Vocês não estão entendendo nada. Nada! Nada! Absolutamente nada! Eu hoje vim dizer aqui que quem teve coragem de assumir a estrutura do Festival – não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem -, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê-la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém! Foi Gilberto Gil e fui eu! Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa?”
Assim foi em 1968, como no ano anterior Sérgio Ricardo havia quebrado seu violão em protesto às vaias que recebia ao se apresentar no Festival da Música Brasileira na TV Record.
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