segunda-feira, 22 de outubro de 2012

De agonia na penumbra

“…

Há quanto tempo ele andava, dias, semanas… ele não sabia, tudo o que via era aquela pouca claridade, aquela luz desbotada, que não ajudava em nada.

Cada passo que dava ressoava em seu ouvido, o esmagar da vegetação seca, a pisada ressoando, qualquer sussurro era um grito naquele lugar silencioso e sombrio. Para qualquer lugar que ele olhasse, desde que conseguisse ver algo naquele mundo apagado, era igual, apenas sombras e vazio, nem mesmo um ser vivo, nem mesmo um camundongo, uma barata, nada ali para dizer que ele estava num mundo vivo. Nem o ar soprava ali, era tudo parado, abafado, seco… uma opressão constante que ao mesmo tempo em que lhe obrigava a dar um passo atrás do outro, o impelia a ficar parado.

Tudo isso, sem falar da sede e da fome que ele sentia, não tinha noção de quando fora a última vez que havia colocado algo na boca, isso o fazia começar a se convencer que não estava vivo. Como ele podia estar a tanto tempo sem se alimentar e se hidratar e não sentir fraqueza? Tudo parecia irreal.

Quando ele já estava começando a desistir, quando qualquer esperança já se esvaia por entre os vãos dos dedos, ele viu no canto de seu olho um movimento diferente, algo fugia de tudo o que ele estava habituado a ver. Vagarosamente ele virou o pescoço para aquele lugar, olhou, piscou os olhos, primeiro devagar, depois depressa, fechou os olhos e tornou a abri-los, ele não acreditava, no alto do galho de uma árvore seca, lá estava, um pássaro preto, que parecia orgulhar-se de si, peito inflado, movendo o bico rapidamente, olhando para os lados. Um sinal inequívoco de vida.

Seu perfil, desenhado pela claridade parca daquela lua, era vivo, era real, era tudo o que ele duvidava de si mesmo havia poucos minutos. Mas, como fazer, como se aproximar sem espanta-la, e o que faria quando se aproximasse o suficiente da ave? Tentaria apanha-la para comê-la, mesmo que crua? Ou tentaria se comunicar? Tentar se fazer entender? Perguntar que lugar era aquele, como sair dali, se haviam outras pessoas como ele naquele lugar? Um dilema, ou a necessidade de sobrevivência ou mil questionamentos que poderiam ajuda-lo a fugir dali.

Ele achou melhor decidir o que fazer quando estivesse mais próximo do pássaro, mas derepente… CRASH… um passo em falso, um galho seco partido sobre seus pés, um barulho ensurdecedor naquele ambiente… o pássaro olhou para o lado dele, abriu as asas e alçou voo para o desconhecido, deixando-o ali, sem ação, solitário, desesperado.

…”

(Devaneios sobre uma ilustração cujo autor não está creditado)

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