“…
Não vou esquecer aquele dia. Aquela manhã nevoenta, aquele cheiro de mato molhado. Era final de outono, a maioria das árvores já tinha perdido sua folhas, ficando com um aspecto esquelético. Parece engraçado, mas elas estavam bem apropriadas para um dia das bruxas.
O carro ia devagar naquela estrada de terra. Ela não tinha tantos buracos, mas a neblina e as curvas eram o real perigo, um movimento errado de volante e provavelmente o para-choque abraçaria um tronco.
O carro estava silencioso, só o barulho do motor, pois naquele lugar o rádio não funcionava. Eu me perguntava se alguma tecnologia funcionaria naquele fim de mundo, afastado de tudo e de todos.
Foi numa curva que ele surgiu. Sentado lá. Todo preto. Olhando de forma silenciosa, nem parecia respirar. Não parecia ser soturno, nem assustador, apenas olhava e parecia perguntar: ‘que diabos você está fazendo aqui?’
Quase perdi o controle do carro, o pé foi do acelerador ao freio de forma instintiva.
Ele permaneceu ali, impassível, olhando. Era um belo espécime canino.
Eu segui pela estrada até a sede da fazenda e ele ficou lá, como se nada tivesse acontecido. Não o vi durante toda a minha estadia naquele lugar, terminei o meu trabalho e voltei para a civilização. Provavelmente ele pertencia a algum colono que morava ali perto. Ou, então, foi abandonado por algum desalmado. Não dá para imaginar uma pessoa em condições normais ter abandonado aquele bicho, somente um louco poderia fazer isso.
…”
(Devaneios sobre uma foto de um cachorro numa estrada)
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