segunda-feira, 15 de outubro de 2012

De apertos no mar

“…

Que ideia genial, passar um fim de semana num barco (tá, ela dizia iate, era mais chique), em alto mar. Coisa de rico.

‘amigos’ da alta roda, viagem de graça, camarote de luxo. Humpf, um bando de trouxas, sanguessugas, um tem um pouco mais de grana e surgem as ‘varejeiras’ atrás do vil metal.

Mas, era aniversário de namoro, eu queria algo mais intimista, ela não, no diálogo ela me convenceu. Porque eu sou tão ruim de oratória? Agora estaríamos numa boa, num bangalô numa cidade turística. Bom, não adianta reclamar.

Na verdade tudo até que ia bem, cheguei a pensar que realmente esse final de semana ia ser bom, mas…

Quando se tem muito dinheiro e ostenta-se isso quase sempre dá errado. Sabia que na costa africana existiam piratas modernos, que abordavam, saqueavam e sequestravam pessoas que estavam em navios de turismo naquela região, principalmente próximo à Somália, mas aqui? Na costa brasileira?

Ninguém nem viu de onde a traineira surgiu, todo mundo estava bebendo e dançando no convés, despreocupados, até que zuniu o primeiro tiro. Um tiro de advertência, para o alto, mas todos ficamos assustados, foi um tal de gente se jogar no chão, alguns começaram a gritar e chorar (curioso, foi a maioria dos mauricinhos). Outro tiro e todo mundo calou a boca.

Pelo menos eles só queriam os bens, dinheiro, joias e o iate, nem pensaram em levar as mulheres, aí a situação seria mais grave. Não que colocar 15 pessoas num bote salva-vidas seja um luxo.

O problema é agora, olhar o horizonte e ver aquela tempestade ao longe, se ela vier para cá, não sei, talvez fosse melhor eles terem nos matado e jogado ao mar. Seria menos doloroso. Esse bote não suportará uma tempestade e vai afundar, morrer agonizando dentro da água parece um panorama muito mais desagradável.

Vou torcer para essas nuvens não virem para cá e para que esse pessoal não perceba a minha preocupação, parece que, além do capitão, só eu tenho espírito prático aqui, só nós conseguimos mantê-los calmos, qualquer deslize nosso e isso aqui vira um caos e qualquer chance nossa de sobrevivência acaba.

…”

(Devaneios sobre uma foto feita por Cameron Brooks)

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